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DESPROPÓSITO
É inquietante o projeto de lei
de nš 717/2003 que tramita na
Assembléia Legislativa fluminense e,
a crer em sua ementa, "cria, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, o programa de auxílio às pessoas que voluntariamente optarem pela mudança da homossexualidade para a heterossexualidade". O problema da estranha proposta é duplo.
De um lado, o projeto exibe preconceitos sem nenhuma fundamentação científica em relação à homossexualidade. De outro, ele pretende
presentear "organizações governamentais, não-governamentais, Associações Civis, religiosas, profissionais liberais e autônomos" com convênios, isto é, dinheiro público, para
promover a suposta cura de uma
condição que não é patológica. Isso
significa que estará criada uma mina
de ouro para aproveitadores que se
dispuserem a sair apregoando que
"curam" homossexuais.
É claro que, numa casa democrática como o é a Assembléia Legislativa
do Rio, cada deputado é livre para
apresentar o projeto que bem entender. Mas é inquietante verificar que a
proposta do deputado Edino Fonseca (PSC) passou, com parecer favorável, pelas comissões de Constituição
e Justiça e de Saúde, que deveriam ter
feito uma apreciação técnica -e não
só moral ou religiosa- da matéria.
Um parecer da Comissão de Saúde
que afirma que "homem e mulher
foram criados e nasceram com sexos
opostos para se completarem e procriarem. O homossexualismo, apesar de aceito pela sociedade, é uma
distorção da natureza do ser humano normal" não pode ser cientificamente levado a sério.
Grupos religiosos têm todo o direito de lançar-se na política, eleger
bancadas e propor projetos de lei. O
que constitui um retrocesso, no entanto, é a tentativa de transformar a
religião em fundamento da política
pública num Estado laico, democrático e republicano, como é o brasileiro. E é tal objetivo que parece estar
presente em propostas como essa
ora em debate no Rio de Janeiro.
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