São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Ossos e sangue

RIO DE JANEIRO - No início deste
ano, tivemos a Operação Vampiro, que investigou um esquema de corrupção dentro do Ministério da Saúde para a compra de hemoderivados. A investigação oficial parece que está concluída pela Polícia Federal. Falta apenas o pronunciamento da Justiça.
E agora outro escândalo estoura no setor. Sugado o sangue pelos vampiros, restaram os ossos, que costumam ser disputados pelos cães.
Uma auditoria do Ministério da Saúde no Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into) apurou irregularidades em licitações e superfaturamento de preços. O prejuízo causado à União chega aos R$ 200 milhões.
A mecânica da corrupção no setor oficial é monótona, cumpre rotineiramente os mesmos itinerários e macetes. Licitações sem pesquisa de preços no mercado, dispensa ou falsificação de concorrência pública (geralmente somada à alegação da urgência), utilização de pareceres jurídicos catimbados ou inventados.
No setor privado, a corrupção adota outros meios, que incluem desde o roubo puro e simples até as ameaças de seqüestro e morte. Contudo as coisas no Brasil estão ficando tão misturadas que, no caso do Into, os dois métodos criminosos de corrupção e intimidação ficaram embaralhados. Aos pareceres falsificados e à ausência de licitação e de concorrência pública somou-se a violência que se manifestou em atentados. O atual diretor do Into pediu a proteção de dois agentes da PE, já sofreu 15 ameaças de morte e teve o seu carro atingido por uma bala de fuzil.
Sinal dos tempos. Em geral, esse tipo de ocorrência policial é exclusivo de contrabandistas, de traficantes e de bicheiros. Pouco a pouco, a sociedade vai tomando conhecimento de que a corrupção, qualquer tipo de corrupção, mesmo a oficial, mais cedo ou mais tarde adota as mesmas leis e os mesmos métodos do crime organizado.


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