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CARLOS HEITOR CONY
Ossos e sangue
RIO DE JANEIRO - No início deste
ano, tivemos a Operação Vampiro,
que investigou um esquema de corrupção dentro do Ministério da Saúde para a compra de hemoderivados.
A investigação oficial parece que está
concluída pela Polícia Federal. Falta
apenas o pronunciamento da Justiça.
E agora outro escândalo estoura no
setor. Sugado o sangue pelos vampiros, restaram os ossos, que costumam
ser disputados pelos cães.
Uma auditoria do Ministério da
Saúde no Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (Into) apurou irregularidades em licitações e superfaturamento de preços. O prejuízo causado à União chega aos R$ 200 milhões.
A mecânica da corrupção no setor
oficial é monótona, cumpre rotineiramente os mesmos itinerários e macetes. Licitações sem pesquisa de preços no mercado, dispensa ou falsificação de concorrência pública (geralmente somada à alegação da urgência), utilização de pareceres jurídicos
catimbados ou inventados.
No setor privado, a corrupção adota outros meios, que incluem desde o
roubo puro e simples até as ameaças
de seqüestro e morte. Contudo as coisas no Brasil estão ficando tão misturadas que, no caso do Into, os dois
métodos criminosos de corrupção e
intimidação ficaram embaralhados.
Aos pareceres falsificados e à ausência de licitação e de concorrência pública somou-se a violência que se manifestou em atentados. O atual diretor do Into pediu a proteção de dois
agentes da PE, já sofreu 15 ameaças
de morte e teve o seu carro atingido
por uma bala de fuzil.
Sinal dos tempos. Em geral, esse tipo de ocorrência policial é exclusivo
de contrabandistas, de traficantes e
de bicheiros. Pouco a pouco, a sociedade vai tomando conhecimento de
que a corrupção, qualquer tipo de
corrupção, mesmo a oficial, mais cedo ou mais tarde adota as mesmas
leis e os mesmos métodos do crime organizado.
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