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JOÃO SAYAD
FMI 2004
Na reunião deste ano, o FMI, o
Banco Mundial e outros bancos
de desenvolvimento trataram de dois
temas: investimentos em infra-estrutura e financiamento em moeda nacional.
Todos os países subdesenvolvidos
precisam fazer investimentos em infra-estrutura que não podem financiar com impostos ou endividamento.
Telecomunicações, energia elétrica e
outros setores rentáveis foram privatizados e, em alguns casos, resolveram o
problema. Mas não há forma de financiar investimentos realmente públicos
-porque atendem populações pobres, que não podem pagar pelo serviço (saneamento básico, habitação popular, transporte público), ou porque
são investimentos precursores, isto é,
feitos antes de serem viáveis, com o
propósito de atrair investimentos privados (estradas pioneiras ou pesquisa
básica, por exemplo) .
O governo da maioria dos países
subdesenvolvidos está muito endividado e usa impostos para pagar dívidas e juros. As dívidas foram causadas
pela política monetária que tentou
evitar desvalorizações cambiais, aumentando o endividamento público
com juros altos ou causando falências
bancárias que o governo precisa pagar. Os prejuízos são pagos com impostos. O discurso afirma que o endividamento vem de gastos sociais e
com a previdência. Os números não
confirmam.
O PPP (programa de parcerias público-privadas) é uma invenção financeira que tenta contornar o problema:
o governo aluga (em vez de comprar)
escolas, estradas, prisões ou pontes.
Como um jovem casal que aluga um
apartamento porque não tem dinheiro nem crédito para comprar.
Financiamento em moeda nacional
quer dizer financiar o Brasil com dólares indexados ao real ou a Argentina
com dólares indexados ao peso. Não
se trata de emprestar reais para o Brasil, pois o Brasil não precisa de reais
nem a Argentina precisa de pesos,
moedas que podem ser "produzidas"
pelos respectivos sistemas bancários.
Trata-se de tomar empréstimos em
dólares indexados à moeda nacional.
A empresa toma US$ 100 emprestados
equivalentes a R$ 300 reais e promete
pagar, no exterior, daqui a dez anos,
dólares em valor equivalente a R$ 300
corrigidos pela inflação nacional mais
os juros. São empréstimos simétricos
ao que estamos acostumados no Brasil -reais indexados ao dólar.
É uma boa idéia. Os tomadores de
empréstimos internacionais nesta
modalidade não quebram depois de
uma crise cambial -como as que
ocorreram no Brasil e na Argentina-
, pois suas dívidas são expressas na
mesma moeda em que as empresas
recebem suas receitas de venda.
A questão é saber se existe alguém
disposto a financiar o Brasil, o México
ou a Argentina correndo o risco da
desvalorização cambial.
Financiamento em moeda nacional
e PPP são remendos criativos que podem atenuar os problemas criados pela globalização financeira que endividou os Estados nacionais dos países
subdesenvolvidos. E também para as
restrições que o espirito do nosso tempo impõe contra os investimentos públicos que faltam no mundo inteiro.
João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.
jsayad@attglobal.net
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