São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2006

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Alckmin e a esfinge

Passado o auge da crise do dossiê, Lula amplia favoritismo; resultado pode levar tucanos a reavaliar tática agressiva

A PESQUISA Datafolha que este jornal publica hoje reforça uma hipótese para a leitura das variações de intenção de voto desde as primeiras sondagens visando à disputa pelo Planalto em 2006. O favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado diretamente proporcional ao esfriamento do noticiário sobre desmandos éticos.
Escândalos graves e em sucessão, como os ocorridos na gestão petista, até aqui não demonstraram a propriedade de cristalizar-se na intenção de voto -não na escala necessária para subtrair a dianteira de Lula. Os dois momentos em que o favoritismo do petista esteve mais em risco coincidiram com o auge do escândalo do mensalão, no segundo semestre do ano passado, e a chamada crise do dossiê, na reta final do primeiro turno.
Nos 15 dias que antecederam a votação de 1º de outubro, período em que surgiu e cresceu no noticiário o escândalo do dossiê, a ascensão de Geraldo Alckmin tornou-se uma tendência. O tucano tinha 27% da preferência em 12 de setembro e obteve nas urnas mais de 38% (ou quase 42% dos votos válidos) no primeiro domingo de outubro. A trajetória de Lula, na mesma base de comparação, foi no sentido inverso: tinha 50% das intenções de voto e obteve pouco menos de 45% (cerca de 49% dos válidos) no dia do escrutínio.
Em campo no fim da semana passada, o Datafolha já havia detectado uma interrupção nessa tendência. A diferença entre Lula e Alckmin na simulação de segundo turno, que era de cinco pontos percentuais na véspera da votação, foi a sete pontos uma semana depois. Após a pesquisa publicada hoje, já se pode dizer que a preferência pela recondução do atual presidente voltou a recuperar-se no eleitorado. O petista agora supera o tucano por 11 pontos percentuais de margem -nos votos válidos, lidera por 56% a 44%.
À primeira vista, o desempenho surpreendente -porque agressivo- do candidato de oposição no primeiro debate televisivo não foi capaz de ampliar o apoio popular a Alckmin. Tampouco logrou evitar a reacomodação da preferência pelo petista em direção a níveis anteriores ao auge da crise mais recente.
É provável que o resultado desta pesquisa provoque na chapa tucano-pefelista nova rodada de discussões sobre qual estratégia adotar daqui por diante. A performance de Alckmin no debate da TV Bandeirantes gerou euforia no círculo de sua candidatura e preocupação no de Lula. Outra questão, à qual o Datafolha começa a lançar luz, é saber como o eleitor propenso a mudar de voto reage à escalada de ataques.
Até que ponto o "novo" Alckmin prega basicamente para convertidos -quando, para vencer, sua missão é converter adeptos do adversário- é um enigma que sua campanha terá pouco tempo para decifrar. Ou correrá o risco de ser devorada pela "esfinge" lulista em 29 de outubro.


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