|
Próximo Texto | Índice
Alckmin e a esfinge
Passado o auge da crise do dossiê, Lula amplia favoritismo; resultado pode levar tucanos a reavaliar tática agressiva
A PESQUISA Datafolha
que este jornal publica
hoje reforça uma hipótese para a leitura das
variações de intenção de voto
desde as primeiras sondagens visando à disputa pelo Planalto em
2006. O favoritismo de Luiz Inácio Lula da Silva tem se mostrado
diretamente proporcional ao esfriamento do noticiário sobre
desmandos éticos.
Escândalos graves e em sucessão, como os ocorridos na gestão
petista, até aqui não demonstraram a propriedade de cristalizar-se na intenção de voto -não na
escala necessária para subtrair a
dianteira de Lula. Os dois momentos em que o favoritismo do
petista esteve mais em risco
coincidiram com o auge do escândalo do mensalão, no segundo semestre do ano passado, e a
chamada crise do dossiê, na reta
final do primeiro turno.
Nos 15 dias que antecederam a
votação de 1º de outubro, período em que surgiu e cresceu no
noticiário o escândalo do dossiê,
a ascensão de Geraldo Alckmin
tornou-se uma tendência. O tucano tinha 27% da preferência
em 12 de setembro e obteve nas
urnas mais de 38% (ou quase
42% dos votos válidos) no primeiro domingo de outubro. A
trajetória de Lula, na mesma base de comparação, foi no sentido
inverso: tinha 50% das intenções
de voto e obteve pouco menos de
45% (cerca de 49% dos válidos)
no dia do escrutínio.
Em campo no fim da semana
passada, o Datafolha já havia detectado uma interrupção nessa
tendência. A diferença entre Lula e Alckmin na simulação de segundo turno, que era de cinco
pontos percentuais na véspera
da votação, foi a sete pontos uma
semana depois. Após a pesquisa
publicada hoje, já se pode dizer
que a preferência pela recondução do atual presidente voltou a
recuperar-se no eleitorado. O
petista agora supera o tucano
por 11 pontos percentuais de
margem -nos votos válidos, lidera por 56% a 44%.
À primeira vista, o desempenho surpreendente -porque
agressivo- do candidato de oposição no primeiro debate televisivo não foi capaz de ampliar o
apoio popular a Alckmin. Tampouco logrou evitar a reacomodação da preferência pelo petista
em direção a níveis anteriores ao
auge da crise mais recente.
É provável que o resultado desta pesquisa provoque na chapa
tucano-pefelista nova rodada de
discussões sobre qual estratégia
adotar daqui por diante. A performance de Alckmin no debate
da TV Bandeirantes gerou euforia no círculo de sua candidatura
e preocupação no de Lula. Outra
questão, à qual o Datafolha começa a lançar luz, é saber como o
eleitor propenso a mudar de voto
reage à escalada de ataques.
Até que ponto o "novo" Alckmin prega basicamente para
convertidos -quando, para vencer, sua missão é converter adeptos do adversário- é um enigma
que sua campanha terá pouco
tempo para decifrar. Ou correrá
o risco de ser devorada pela "esfinge" lulista em 29 de outubro.
Próximo Texto: Editoriais: A bomba prolifera
Índice
|