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RUY CASTRO
A tanga e a sunga
RIO DE JANEIRO - Em 1979, já
presidente da República, o general
João Figueiredo deixou-se fotografar de sunga e busto nu na Granja do
Torto, exibindo um vigor físico invejável para um homem de 61 anos.
E mais ainda por estar de tênis e
meias, o que parecia realçar seus
tendões, músculos e veias.
A foto era assustadora, não apenas por mostrar um presidente em
trajes tão exíguos, mas por Figueiredo ser como era, brabo e meio
grosso. Montava a cavalo pela manhã, varava de moto, sozinho, as
ruas de Brasília durante a madrugada, e ameaçava prender e arrebentar quem se opusesse à abertura política que ele prometera.
Apesar disso, nunca ouvi nenhuma mulher suspirar ao vê-lo de sunga na tal foto. Ao contrário, havia algo de cafona e démodé naquela macheza explícita, pelo que diziam.
Menos de um ano depois, em 1980,
outra personalidade política brasileira -o ex-jornalista Fernando
Gabeira, 39 anos, recém-chegado
de quase dez anos de exílio- também se deixava fotografar, na praia
de Ipanema, num traje sumário. Na
verdade, mais sumário ainda: a tanga de sua prima Leda Nagle.
Em matéria de apuro físico, Gabeira não era páreo para o sarado
Figueiredo. Magro por natureza, o
exílio só enfatizara sua compleição
frágil, quase esquelética, que aquele
ridículo cache-sex expunha ao sol.
Com tudo isso, as mulheres caíram
em cima -Gabeira era um sucesso
com elas, como sempre fora.
Na segunda-feira última, dia seguinte ao primeiro turno da eleição
para a Prefeitura do Rio, Gabeira
deixou-se fotografar de novo em
trajes de banho, agora de sunga.
Jornais e TVs despejaram ironias.
Os adversários riram de orelha a
orelha e analistas viram naquilo um
golpe mortal em suas aspirações
para o segundo turno. Dois dias depois, em nova pesquisa, Gabeira ultrapassou o favorito Eduardo Paes.
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