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GUSTAVO FRANCO
A crise e o Brasil
A CRISE INTERNACIONAL assume feições dramáticas,
mas ela não é nossa. É preciso zelar para que continue assim.
O efeito mais visível, a queda nas
Bolsas, tem grande impacto no noticiário, no bolso e na psicologia
das pessoas. Não há muito o que fazer, pois a Bolsa funciona como um
termômetro de coisas mais complexas que se passam no mundo financeiro. O investidor deve lembrar, mais que nunca, que Bolsa é
investimento de longo prazo e que
perda de verdade ocorre apenas
quando o indivíduo vende. É fácil
observar que os preços das ações
estão inacreditavelmente baixos
diante dos "fundamentos" das empresas e da economia; o ânimo
para as compras ainda não está
presente, mas a vida normal será
retomada.
No terreno do crédito, há um fenômeno objetivo, que é o corte de
linhas interbancárias externas, e
outro subjetivo, que é o aumento
de aversão ao risco. O corte de linhas afeta o capital de giro dos exportadores. Este é um terreno delicado, e o governo se moveu usando
as reservas internacionais, que fornecem ampla e confortável base
para a normalização desses canais.
A aversão ao risco gera seletividade nas aplicações, o que deteriora as condições de captação dos
bancos, o que tende a se refletir nos
clientes desses bancos. Para que aí
não se tenha uma influência recessiva, tampouco qualquer desconfiança sobre a solidez do sistema,
as autoridades também têm agido
com rapidez. Resta observar que a
crise poderá ameaçar-nos através
do câmbio. A rigor, nossa posição
no balanço de pagamentos e de reservas internacionais não deveria
traduzir-se em enfraquecimento
do real num momento em que os
problemas não estão aqui, mas lá
fora. Como evidência disso, basta
notar que o "risco Brasil" reagiu
apenas marginalmente à crise.
Independentemente desses fatores fundamentais, o corte das linhas externas criou razões técnicas para o câmbio subir, pois os exportadores foram privados dos
seus adiantamentos e o câmbio
deitou a subir. Num segundo momento, verificou-se que muitas
empresas haviam tomado posições
vendidas em derivativos cambiais,
com o intuito de reduzir seu custo
de captação, e que a zeragem dessas posições estava levando o câmbio longe demais. A elevação do
câmbio da faixa de R$ 1,70 para R$
2,20 (tendo passado por R$ 2,50)
representa o que antigamente se
chamava de uma "maxi", e de pouco mais de 30%.
As "maxis" não são nada recomendáveis nesse momento, primeiro porque a posição internacional do Brasil não carece delas, e segundo por que sacode a árvore sem
necessidade.
gh.franco@uol.com.br
GUSTAVO FRANCO escreve aos sábados nesta coluna.
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