São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A virada de Heliópolis

GILBERTO KASSAB


A intervenção do poder público em Heliópolis deixou de ser cosmética. E a comunidade é cada vez mais ativa e altiva

POR MUITAS décadas, Heliópolis foi órfã de São Paulo. A grande favela com cerca de 100 mil moradores localizada no Ipiranga, perto da colina onde d. Pedro 1º deu o grito da independência, tornou-se colônia de algumas das mais graves mazelas de nossa sociedade. Nos últimos cinco anos, felizmente, os sinais sociais se inverteram.
A região vem vivendo uma virada, discreta, mas intensa, tornando-se um bairro, graças à aliança entre o poder público e a sociedade civil. Mais que isso, Heliópolis torna-se um "bairro educador", como definiu o governador José Serra ao inaugurar uma escola técnica no último dia 28. A Etec veio se juntar a diversos investimentos -em educação, saneamento, urbanismo, saúde, transportes- efetivados pelo poder público, em aliança com a comunidade local.
Sem paternalismo, concretiza-se ali uma verdadeira mudança de "status quo", o que só pode causar irritação aos que por tantas décadas usaram Heliópolis como massa de manobra da demagogia. São esses que, nas últimas semanas, buscaram a imprensa para negar as realizações feitas em Heliópolis.
São mais fortes que essa ação negativa, entretanto, as intervenções positivas, reais, que estão beneficiando a comunidade de Heliópolis. São as iniciativas estruturantes da Prefeitura de São Paulo, em parceria com os governo do Estado e federal.
A começar pelo urbanismo, adotando uma concepção mais humana de intervenção. Foi abandonado o modelo que removia a população para regiões distantes da cidade, criando guetos e problemas de transporte.
A solução é transformar favelas em bairros por meio de obras, como a canalização de córregos, a abertura de ruas e de acesso ao transporte público, implantando iluminação e construindo as unidades habitacionais necessárias para reorganizar a ocupação do local.
Prefeitura e governo do Estado já investiram R$ 135 milhões em Heliópolis desde 2005, beneficiando 14.700 famílias e construindo 1.700 apartamentos (638 já entregues). Outras intervenções e mais 700 unidades habitacionais estão em licitação.
Obras da Sabesp universalizaram o abastecimento de água e possibilitaram a marca de 80% de coleta de esgoto. Foram pavimentadas ruas e implantadas redes de drenagem. Heliópolis deixou de ser uma grande favela e torna-se um bairro cada vez mais organizado.
Um bairro acolhedor também precisa de saúde e de educação de qualidade. Desde 2006, há no local uma assistência médica ambulatorial que funciona 24 horas, fazendo 20 mil atendimentos por mês. O laboratório público do Ipiranga teve sua capacidade quintuplicada e realiza 300 mil exames clínicos por mês.
Também foram implantados ambulatórios odontológicos e uma unidade dedicada ao tratamento de doenças sexualmente transmissíveis. A saúde psíquica e mental, assim como o combate e tratamento do alcoolismo e da dependência de drogas, são atendidas por dois centros de atenção psicossocial. E, até o final do ano, o bairro receberá um ambulatório médico de especialidades que será um dos maiores do Estado.
Na educação, as vagas nas creches aumentaram quatro vezes desde 2005, atendendo atualmente mais de 2.000 crianças. Em todas as seis escolas infantis do bairro, o turno mudou de quatro para seis horas diárias.
No ensino fundamental, três escolas da região passaram ao turno de cinco horas diárias. Foi construído um CEU dentro da favela, com o projeto definido em conjunto com os próprios moradores.
Na área da cultura, a orquestra Baccarelli, formada por jovens moradores de Heliópolis, tem o apoio decisivo do poder público, que doou o terreno onde ela se instalou.
Um passo decisivo para a total integração de Heliópolis no tecido urbano da cidade será dado com a entrega das estações Sacomã e Tamanduateí do Metrô, que vão se integrar com a linha 10 da CPTM, que terá qualidade de Metrô. As obras estão em andamento.
A intervenção do poder público em Heliópolis deixou de ser cosmética.
Surgem novas oportunidades, verdadeiras e efetivas, para a comunidade.
Deixou de existir a situação de orfandade crônica, abandono endêmico, seara preservada para a demagogia.
É esse o grande e emblemático sentido da virada de Heliópolis: a comunidade é cada vez mais ativa e altiva.
Com mais saúde, educação, saneamento, urbanismo, segurança e transporte, os moradores de Heliópolis tornam-se capazes de tomar iniciativa e comandar, em parceria com o poder público, a construção de um destino melhor.


GILBERTO KASSAB , 49, engenheiro e economista, é o prefeito de São Paulo pelo DEM. Foi secretário municipal de Planejamento (gestão Celso Pitta).

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