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NECESSÁRIO, MAS INSUFICIENTE
Antes do Plano Real, em dezembro
de 1993, o governo lançava a pedra
fundamental da estabilização: o Plano de Ação Imediata. Eram promessas de ajuste fiscal. Quase quatro
anos depois, as contas públicas ainda são inaceitavelmente deficitárias.
Foi necessária uma grave crise externa para o governo ter a coragem e
o sentido de urgência suficientes,
lançando medidas impopulares, mas
imprescindíveis para tentar impedir
um forte ataque especulativo ao real.
A alta dos juros onera as contas públicas. O esforço fiscal serve para reforçar a credibilidade na linha de defesa do real adotada pelo governo.
Infelizmente, certas medidas são
tópicas ou tardias, como os compromissos de fiscalizar importações ou
rever contratos, nada mais que obrigações cotidianas. E cortar intenções
de gastos não é igual a cortar gastos.
Mas o aumento de impostos e de tarifas -e cortes efetivos de gastos
com custeio e subsídios- sinaliza
aos credores do governo que talvez
haja recursos para sustentar uma política de juros sem a qual o governo
teria de desvalorizar o real. A questão
agora é saber por quanto tempo será
possível manter juros tão elevados.
É um círculo vicioso. Os juros altos
exigem forte aperto fiscal, mas tal
ajuste é uma forma de cobrir a conta
de juros. É também a forma de o governo sinalizar que faz a sua parte,
sendo austero em suas contas.
Para sair do círculo vicioso, o governo deve demonstrar não só que é capaz de promulgar medidas emergenciais, mas também de promover um
ajuste duradouro no Estado. Só percebendo que o governo pode gerar
um superávit fiscal estrutural é que
os investidores confiarão na moeda e
os juros poderão declinar.
O pacote de ontem é, portanto, absolutamente necessário, mas insuficiente para construir um Estado que
gaste, tribute e se endivide menos.
Esse trabalho mal começou.
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