São Paulo, terça, 11 de novembro de 1997.



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Invencibilidade e alfinetes

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - A equipe econômica exibia ontem um jeitão de quem perdeu a invencibilidade.
Balbuciavam, não explicavam coisa alguma em português e, mesmo em economês, tiveram lá suas vacilações. Davam a impressão de que a honestidade intelectual de muitos deles colidia com a obrigação de mentir ou tergiversar sobre os efeitos do pacotaço, em especial sobre a atividade econômica e, por extensão, o emprego. Por isso, coravam.
Meu filho perguntou de saída: "Por que não fizeram isso antes?". Boa pergunta. Um governo que leva três anos para descobrir, por exemplo, que é preciso coibir o subfaturamento das exportações e rever os contratos que assina, como foi anunciado ontem, só podia estar dormindo.
Aqui, cabe um parêntesis: não me alegro nem um pouquinho com a perda da invencibilidade da equipe. Ao contrário: por mil e uma dúvidas que tenha sobre o modelo que escolheram, já expostas neste espaço toneladas de vezes, não me consta que sejam desonestos, despreparados, traidores da pátria etc e tal. Ou que tenham se beneficiado pessoalmente do que fizeram ou deixaram de fazer.
Por isso, a hora parece adequada para se discutir o modelo em si, muito mais do que o catatau de medidas pontuais adotadas pós-crash global.
Pela lógica da própria equipe econômica, o modelo corre riscos em função de fatores externos. Pior: não está à vista o fim do temporal externo, como deixou claro o ministro Pedro Malan.
Como, então, supor que os brasileiros possam dormir tranquilos se a sua sorte é decidida conforme se estabilizem ou não o baht tailandês, o dólar de Hong Kong e, agora, o won coreano? A menos que FHC pretenda se eleger imperador dos países ditos emergentes e não apenas do Brasil, ou se estuda a viabilidade de uma couraça externa ou o pacotaço de ontem só vai deixar claro que o modelo está preso apenas por alfinetes, instrumento muito útil, mas pouco sólido.



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