São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AS COTAS DO PT

O racismo é, sem dúvida, umas das graves mazelas que atingem o mundo. E o "racismo cordial" brasileiro não é uma exceção. Ao contrário até, ele conspira para esconder o problema e, dessa forma, eternizá-lo. É mais do que louvável, portanto, o desejo do PT de instituir mecanismos efetivos de combate ao racismo. Mas a proposta de criar cotas para estudantes negros nas universidades públicas, em que pese sua justeza, apresenta tantas dificuldades conceituais e práticas que o bom senso recomendaria reconsiderá-la.
No plano operacional, as cotas esbarrariam na definição de quem é negro. A única forma democrática de fazê-lo é seguir a prática do IBGE e erigir a autodefinição como critério. O problema da autodefinição é que qualquer um, para obter mais facilmente a tão desejada vaga, poderá declarar-se negro, sem que o Estado ou a universidade possam contestar.
Outras críticas pertinentes em relação à política de cotas incluem o fato de que ela não traz benefícios para a escola pública em geral e o risco de que ela acabe por gerar duas classes de alunos universitários: os "normais" e os que só conseguiram uma vaga por ser negros.
Em termos teóricos, a adoção das cotas é problemática por envolver discriminação. Como o número de vagas na universidade pública é finito, para cada estudante que entrar pelo sistema de cotas haverá outro que perderá a vaga. Isso não seria necessariamente um problema se a filosofia do vestibular não estivesse calcada na meritocracia. Se a idéia é que os melhores consigam o posto, fica complicado trazer outros critérios que contrariem esse princípio.
Mesmo reconhecendo que é legítimo, necessário e urgente criar condições para que negros e brancos, pobres e ricos disputem vagas nas universidades públicas em condições de igualdade, esta Folha é contrária à política de cotas. Para além dos problemas operacionais que cria, ela tem como pressuposto a noção equivocada de que se combate uma injustiça criando outra.



Texto Anterior: Editoriais: BASTIÃO MONETARISTA
Próximo Texto: Editoriais: RISCOS AMBIENTAIS


Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.