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VINICIUS TORRES FREIRE
A rede de proteção política de Lula
SÃO PAULO - Não significa lá grande coisa, se alguma, dizer que o "problema do Brasil é político, não é econômico", como fez o presidente eleito.
De tão vagamente demagógico nem
se pode dizer que é mentira. Mas considere o contexto: a frase apareceu
nas conversas tão vagas quanto absurdas de pacto, que bóiam no caldeirão do cozido desse também vago
conselho social. Lula quer é resolver
seu problema político. Para tanto,
tenta criar uma rede de proteção política, para a qual convocou a "sociedade civil", empresários, sindicatos.
Luiz Inácio Lula da Silva tem sido
extraordinariamente capaz de administrar panos quentes ao mercado, de
amaciar ex-adversários de campanha e de cooptar parte da mídia até
ontem tão reacionária quanto o PT
era esquerdista besteirol.
Lula e seu PT conseguiram conter a
deterioração das expectativas financeiras (que continuam horríveis: apenas tiraram um bode da sala, o dólar
a R$ 4). Parece que vão conseguir
empurrar para fevereiro de 2003 as
discussões mais duras com o FMI. Estão cozinhando essa história do salário mínimo mais alto. Talvez venham a obter uma solução negociada para reformas importantes, no
que FHC fracassou.
Lula e o PT estão conseguindo
guardar segredos. Tudo é tão misterioso que a gente começa a imaginar
se o PT na verdade já tem alguma
idéia do que vai fazer (é meio disparatado que até ontem o PT ainda não
tivesse armado sua equipe para falar
com o FMI). Em certo momento, as
contas devem começar a chegar.
A "rede de proteção política", pacto
ou conselho, seja lá como se chame,
pode bem servir como meio de pressão para fazer o Congresso aprovar
reformas e como anteparo para as
críticas dos perdedores (reformas
sempre impõem perdas). Mas sempre
haverá protesto. E o que vai ganhar o
pessoal que fizer parte do "conselho"
de Lula? E se a situação financeira do
país e do planeta não melhorar até
fevereiro, o que vão dizer ao FMI? E
se o mercado não esperar até lá? E o
MST, vai esperar até quando?
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