São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

A rede de proteção política de Lula

SÃO PAULO - Não significa lá grande coisa, se alguma, dizer que o "problema do Brasil é político, não é econômico", como fez o presidente eleito. De tão vagamente demagógico nem se pode dizer que é mentira. Mas considere o contexto: a frase apareceu nas conversas tão vagas quanto absurdas de pacto, que bóiam no caldeirão do cozido desse também vago conselho social. Lula quer é resolver seu problema político. Para tanto, tenta criar uma rede de proteção política, para a qual convocou a "sociedade civil", empresários, sindicatos.
Luiz Inácio Lula da Silva tem sido extraordinariamente capaz de administrar panos quentes ao mercado, de amaciar ex-adversários de campanha e de cooptar parte da mídia até ontem tão reacionária quanto o PT era esquerdista besteirol.
Lula e seu PT conseguiram conter a deterioração das expectativas financeiras (que continuam horríveis: apenas tiraram um bode da sala, o dólar a R$ 4). Parece que vão conseguir empurrar para fevereiro de 2003 as discussões mais duras com o FMI. Estão cozinhando essa história do salário mínimo mais alto. Talvez venham a obter uma solução negociada para reformas importantes, no que FHC fracassou.
Lula e o PT estão conseguindo guardar segredos. Tudo é tão misterioso que a gente começa a imaginar se o PT na verdade já tem alguma idéia do que vai fazer (é meio disparatado que até ontem o PT ainda não tivesse armado sua equipe para falar com o FMI). Em certo momento, as contas devem começar a chegar.
A "rede de proteção política", pacto ou conselho, seja lá como se chame, pode bem servir como meio de pressão para fazer o Congresso aprovar reformas e como anteparo para as críticas dos perdedores (reformas sempre impõem perdas). Mas sempre haverá protesto. E o que vai ganhar o pessoal que fizer parte do "conselho" de Lula? E se a situação financeira do país e do planeta não melhorar até fevereiro, o que vão dizer ao FMI? E se o mercado não esperar até lá? E o MST, vai esperar até quando?



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