São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006

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SÉRGIO DÁVILA

Uma sugestão para Bush

O PRESIDENTE George W. Bush disse em entrevista anteontem que aceitava sugestões sobre como lidar com a Guerra do Iraque. Aqui vai uma: mantenha o "Sigir". É a sigla em inglês para a agência federal temporária criada pelo Congresso para investigar fraudes, desperdício e mau uso de dinheiro destinado à reconstrução do país.
O escritório antimaracutaias surgiu de uma das raras iniciativas bipartidárias desse Legislativo que chega ao fim e, desde que começou a funcionar, não pára de fazer denúncias.
Uma das mais ruidosas foi a da construção da Academia de Polícia de Bagdá, que era para ser um símbolo da colaboração de invasores e invadidos em torno do problema mais grave que toma o Iraque, a falta de segurança.
A obra consumiu US$ 75 milhões. No dia da inauguração, teve de ser interditada. Entre outros problemas descobertos pelo Sigir, o teto corria o risco de desabar nos recrutas; quando as torneiras das pias dos banheiros eram abertas, o alojamento dos estudantes recebia uma chuva de fezes e urina (insira aqui sua própria metáfora irônica da presença dos EUA no Iraque).
Desde sua criação, em 2004, o escritório fez 73 relatórios de auditorias, 243 recomendações de ações e 65 análises de projetos. Pediu a abertura de 25 ações criminais no Departamento de Justiça, das quais quatro resultaram em condenações. Entre as empresas denunciadas, estão a Parsons (que fez a academia) e a KBR, antes conhecida como Kellogg Brown & Root e subsidiária da Halliburton, que já teve o vice-presidente Dick Cheney no comando.
Nas contas do titular do escritório, o incansável Stuart Bowen, a corrupção das empreiteiras norte-americanas e do governo iraquiano joga US$ 4 bilhões por ano nas mãos dos rebeldes, que usam o dinheiro para se armar e manter viva a guerra civil -e matar soldados norte-americanos, num ciclo vicioso que poucos percebem. Numa de suas auditorias, descobriu que 14 mil armas do Exército dos Estados Unidos tinham desaparecido -provavelmente, já estão nas mãos dos insurgentes. Além disso, entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões de dinheiro norte-americano já liberado pelo Congresso para a reconstrução não são usados por falta de competência dos contratados.
Há poucos dias, numa canetada, Bush zerou o dinheiro destinado ao Sigir em 2007, eliminando-o na prática. O presidente quer sugestões? Não fechar o escritório já seria um bom começo...


sergiodavila@uol.com.br

SÉRGIO DÁVILA
é correspondente em Washington.


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