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SÉRGIO DÁVILA
Uma sugestão para Bush
O PRESIDENTE George W.
Bush disse em entrevista
anteontem que aceitava sugestões sobre como lidar com a
Guerra do Iraque. Aqui vai uma:
mantenha o "Sigir". É a sigla em inglês para a agência federal temporária criada pelo Congresso para
investigar fraudes, desperdício e
mau uso de dinheiro destinado à
reconstrução do país.
O escritório antimaracutaias
surgiu de uma das raras iniciativas
bipartidárias desse Legislativo que
chega ao fim e, desde que começou
a funcionar, não pára de fazer denúncias.
Uma das mais ruidosas foi a da
construção da Academia de Polícia
de Bagdá, que era para ser um símbolo da colaboração de invasores e
invadidos em torno do problema
mais grave que toma o Iraque, a falta de segurança.
A obra consumiu US$ 75 milhões. No dia da inauguração, teve
de ser interditada. Entre outros
problemas descobertos pelo Sigir,
o teto corria o risco de desabar nos
recrutas; quando as torneiras das
pias dos banheiros eram abertas, o
alojamento dos estudantes recebia
uma chuva de fezes e urina (insira
aqui sua própria metáfora irônica
da presença dos EUA no Iraque).
Desde sua criação, em 2004, o
escritório fez 73 relatórios de auditorias, 243 recomendações de
ações e 65 análises de projetos. Pediu a abertura de 25 ações criminais no Departamento de Justiça,
das quais quatro resultaram em
condenações. Entre as empresas
denunciadas, estão a Parsons (que
fez a academia) e a KBR, antes conhecida como Kellogg Brown &
Root e subsidiária da Halliburton,
que já teve o vice-presidente Dick
Cheney no comando.
Nas contas do titular do escritório, o incansável Stuart Bowen, a
corrupção das empreiteiras norte-americanas e do governo iraquiano
joga US$ 4 bilhões por ano nas
mãos dos rebeldes, que usam o dinheiro para se armar e manter viva
a guerra civil -e matar soldados
norte-americanos, num ciclo vicioso que poucos percebem.
Numa de suas auditorias, descobriu que 14 mil armas do Exército
dos Estados Unidos tinham desaparecido -provavelmente, já estão
nas mãos dos insurgentes. Além
disso, entre US$ 8 bilhões e US$ 10
bilhões de dinheiro norte-americano já liberado pelo Congresso para
a reconstrução não são usados
por falta de competência dos
contratados.
Há poucos dias, numa canetada,
Bush zerou o dinheiro destinado
ao Sigir em 2007, eliminando-o na
prática. O presidente quer sugestões? Não fechar o escritório já seria um bom começo...
sergiodavila@uol.com.br
SÉRGIO DÁVILA é correspondente em Washington.
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