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Renovar o Enem
Exame enfrenta percalços por manter o gigantismo de teste único; saída é aplicar provas equivalentes, mas distintas, em tempo e locais variados
O açodamento com que o Ministério da Educação (MEC) se lançou
na transformação do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem)
em principal porta de acesso às
universidades federais está na raiz
de seus sucessivos fiascos. Com
um pouco mais de planejamento,
seria possível evitar o grave prejuízo à imagem de um sistema que
possui inegáveis méritos.
A formulação do Enem se baseia em técnicas modernas de avaliação. O mesmo tipo de prova é
aplicada em exames reconhecidos
como eficazes em diversos países.
É o caso do SAT norte-americano
(sigla que significa teste de avaliação escolar, em inglês) e também
o Pisa (Programa Internacional de
Avaliação de Alunos), adotado
por membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Essas provas são baseadas em
questões classificadas por grau de
dificuldade. O escore final de cada
participante resulta de cálculos
estatísticos que levam em conta o
desempenho do candidato nas
perguntas consideradas mais e
menos difíceis. Dito de outro modo, a necessária isonomia entre os
participantes fica garantida por
essa ponderação. Não é obrigatório que todos os estudantes respondam um rol de perguntas de
conteúdo idêntico, como no vestibular -basta que elas se equivalham em grau de dificuldade.
É consensual que essa técnica
permite comparar de forma justa
alunos que fizeram exames diversos, mesmo que em diferentes momentos e países.
Tanto é assim que o SAT americano conta com sete aplicações ao
longo de um ano. No plano original do Ministério da Educação, o
novo Enem deveria ter três edições anuais.
Boa parte dos percalços que a
prova enfrenta vem da tentativa
de conjugar esse modelo com o gigantismo do velho vestibular: um
sistema de avaliação que, embora
imaginado para permitir a compilação de múltiplas provas, tem de
ser realizado em escala nacional
como prova única.
O pesadelo logístico de fazer
chegar um exame de conteúdo
idêntico a mais de 3 milhões de estudantes, num país do tamanho
do Brasil, carrega consigo o germe
do fracasso. O método cria um prêmio alto demais para o vazamento, valorizando as muitas oportunidades de quebra de sigilo.
A saída não está em uma marcha à ré. Ao contrário, cabe persistir na lógica do Enem e apressar a
constituição de um grande banco
de questões codificadas.
Isso permitiria diversificar as
provas, que poderiam ser organizadas de forma regionalizada -ou
mesmo com a aplicação de vários
exames numa mesma região.
Também seria possível propor
mais de um teste ao longo de um
mesmo ano. Não seria um exame à
prova de fraude, o que não existe,
mas contribuiria para evitar problemas e superar o arcaísmo dos
grandes vestibulares.
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