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Desvios ignorados
Como faz todos os anos, o Tribunal de Contas da União apresentou seu relatório de auditorias, no
qual recomenda a paralisação de
obras beneficiárias de recursos federais que apresentaram graves
indícios de irregularidades, como
superfaturamento, direcionamento de licitação e falhas de projeto.
Desta vez, de um total de 231
empreendimentos vistoriados, 32
caíram na "malha fina" do TCU
-18 deles integrantes do PAC, o
principal programa de investimentos do governo federal.
Se forem acatadas, as recomendações do órgão técnico -encarregado de auxiliar o Poder Legislativo na tarefa de fiscalização dos
gastos públicos- podem gerar
uma economia de R$ 2,6 bilhões
aos cofres do governo.
É de esperar que sejam. Não foi
o que aconteceu no ano passado,
quando parte das ressalvas feitas
pelo TCU a obras consideradas irregulares foi ignorada pelo presidente Lula. A decisão significou a
liberação de R$ 13 bilhões para
quatro projetos da Petrobras com
problemas avaliados como graves
nas prestações de contas.
Dois deles voltam a aparecer no
relatório deste ano, com nova recomendação de que os trabalhos
sejam interrompidos até a correção dos desvios. O governo argumentou à época que a paralisação
representaria a eliminação de 25
mil empregos e prejuízos mensais
de R$ 268 milhões.
Serão mais sérias as perdas para os cofres públicos se o Executivo transformar em rotina o desrespeito às recomendações da instituição fiscalizadora. No ano passado, Lula fez repetidas críticas ao
TCU e defendeu a criação de um
novo órgão, que fosse "tecnicamente inatacável". O Executivo
considera que o tribunal, por contar com membros da oposição em
sua cúpula, tem caráter político.
Sem dúvida, o ideal seria que a
atuação do TCU fosse a mais técnica possível. A sofrer, porém, alguma influência política, o que parece inevitável, é preferível, por motivos óbvios, que seja da oposição.
O fato de que o tribunal possa
-e deva- ser aperfeiçoado não
justifica o desprezo com que o
Executivo tem tratado suas recomendações. O pouco caso em relação a desvios envolvendo dinheiro público tornou-se padrão no
governo petista, que dessa forma
vai minando os já débeis instrumentos de controle e prevenção a
malfeitos existentes no país.
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