São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

Pau de sebo

RIO DE JANEIRO - Já vi muita coisa neste mundo, mas nunca assisti pessoalmente a um pau de sebo de verdade, uma brincadeira que me parece caipira e que alegra as festas do povo em geral. Mas sei do que se trata. Aparecem os candidatos a um prêmio colocado no topo de um mastro de madeira ensebada com graxa ou outro deslizante qualquer. Todos tentam subir para ficar de posse do prêmio colocado no topo -uma galinha, uma cesta de ovos, uma garrafa de cachaça, um chapéu de couro.
Como já disse, nunca vi um pau de sebo ortodoxo. Sei que é um dos números de sucesso em qualquer evento rural, os pretendentes se esbofam, agarrados com pernas, mãos e dentes ao poste, mas sempre escorregam e quase nunca chegam lá.
Em todo o caso, não tenho motivos para me queixar. Conheço outro tipo de pau de sebo, por sinal, bem mais divertido, tendo no topo, em vez de uma galinha ou um chapéu de couro, um ministério, uma estatal, uma comissão mista, uma embaixada, uma diretoria de verba farta.
São muitos os candidatos que se agarram ao poste ensebado, uns sobem, outros descem, não desanimam, tentam outra vez alcançar a prenda lá em cima. Enquanto houver galinha, cesta de ovos ou cargo de qualquer escalão no próximo governo, não faltarão pretendentes dispostos a dar o vexame, a pagar o mico do sebo.
E, como nas festas caipiras, há torcedores que incentivam os candidatos (que, aliás, não precisam de incentivo), dão conselhos sobre como vencer a viscosidade da graxa, como agarrar sem deslizar, subindo sempre, livrando-se dos rivais, até chegar à prenda cobiçada.
Que é divertido é. Mais do que a corrida de saco, o ovo na colher e outras brincadeiras ingênuas que animam as festas de prefeituras do interior ou de quermesses paroquiais.


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