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CARLOS HEITOR CONY
Pau de sebo
RIO DE JANEIRO - Já vi muita coisa
neste mundo, mas nunca assisti
pessoalmente a um pau de sebo de
verdade, uma brincadeira que me
parece caipira e que alegra as festas
do povo em geral. Mas sei do que se
trata. Aparecem os candidatos a
um prêmio colocado no topo de um
mastro de madeira ensebada com
graxa ou outro deslizante qualquer.
Todos tentam subir para ficar de
posse do prêmio colocado no topo
-uma galinha, uma cesta de ovos,
uma garrafa de cachaça, um chapéu de couro.
Como já disse, nunca vi um pau
de sebo ortodoxo. Sei que é um dos
números de sucesso em qualquer
evento rural, os pretendentes se esbofam, agarrados com pernas,
mãos e dentes ao poste, mas sempre escorregam e quase nunca chegam lá.
Em todo o caso, não tenho motivos para me queixar. Conheço outro tipo de pau de sebo, por sinal,
bem mais divertido, tendo no topo,
em vez de uma galinha ou um chapéu de couro, um ministério, uma
estatal, uma comissão mista, uma
embaixada, uma diretoria de verba
farta.
São muitos os candidatos que se
agarram ao poste ensebado, uns sobem, outros descem, não desanimam, tentam outra vez alcançar a
prenda lá em cima. Enquanto houver galinha, cesta de ovos ou cargo
de qualquer escalão no próximo governo, não faltarão pretendentes
dispostos a dar o vexame, a pagar o
mico do sebo.
E, como nas festas caipiras, há
torcedores que incentivam os candidatos (que, aliás, não precisam
de incentivo), dão conselhos sobre
como vencer a viscosidade da graxa, como agarrar sem deslizar, subindo sempre, livrando-se dos rivais, até chegar à prenda cobiçada.
Que é divertido é. Mais do que a
corrida de saco, o ovo na colher
e outras brincadeiras ingênuas que
animam as festas de prefeituras
do interior ou de quermesses
paroquiais.
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