São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2010

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KENNETH MAXWELL

Bush

O ex-presidente George W. Bush reapareceu nesta semana. O lançamento de "Decision Points", seu livro de memórias, ocorreu em momento bem calculado.
Barack Obama, seu sucessor, acabara de sofrer uma dolorosa derrota nas eleições de meio de mandato presidencial. Além disso, Obama estava em viagem à Ásia. Com entrevistas nos EUA e à imprensa internacional, Bush dominou as notícias. Não surpreende que não expresse arrependimento por coisa nenhuma. Ou ao menos que expresse quase nenhum arrependimento.
O mais importante é que defende o uso de "waterboarding" no interrogatório de terroristas islâmicos. O "waterboarding" faz com que o interrogado sinta uma sensação de afogamento e era empregado como método de interrogatório "forte" pela Agência Central de Inteligência (CIA).
Bush diz que autorizou pessoalmente o uso da técnica contra Khalid Sheikh Mohammed, um dos responsáveis pelo planejamento dos ataques às torres gêmeas do World Trade Center, no 11 de Setembro de 2001. Bush diz que esse recurso salvou vidas. "Meu trabalho era proteger os Estados Unidos. E foi o que fiz".
Muita gente considera que o "waterboarding" seja tortura. Bush alega que a técnica permitiu que o país impedisse novos ataques terroristas depois do 11 de Setembro, não apenas em território norte-americano mas em Londres. Bush diz que seu uso ajudou a desbaratar complôs para ataques ao aeroporto de Heathrow e ao Canary Wharf. Ele é muito elogioso quanto a Tony Blair, o ex-primeiro-ministro britânico. Blair disse a Bush: "Eu topo. Se me custar o governo, que seja".
O ex-presidente norte-americano disse ao editor do "Times", de Londres, que não se incomoda muito com a opinião pública britânica. "Não importa que percepção as pessoas tenham de mim na Inglaterra. (...) E, francamente, na época isso tampouco importava em dados momentos".
Bush não se arrepende da invasão ao Iraque. Lamenta o fracasso em localizar armas de destruição em massa, cuja suposta presença justificou a invasão. Admite que seu país estava despreparado para as consequências. Diz que demorou a reagir ao furacão Katrina. Mas assume pleno crédito por enviar reforços ao Iraque.
O problema para Bush, no entanto, é que seu governo terminou com o pior colapso econômico desde a Grande Depressão. E, a despeito da guerra continuada no Afeganistão e de um novo reforço nas tropas de ocupação, decidido por seu sucessor, o responsável pelos ataques do 11 Setembro, Osama bin Laden, fundador da Al Qaeda, continua livre, escondido nas montanhas na fronteira entre Afeganistão e Paquistão e ainda planejando ataques terroristas contra os EUA e seus aliados ocidentais.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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