São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Era uma vez a esquerda...

SÃO PAULO - "A história não se repete, ela gagueja." Consta que essa era uma das frases pichadas nos muros de Paris em Maio de 68. Como a fórmula original, que Marx consagrou, a paródia forjada pelos estudantes rebeldes não teria nada mais a nos dizer -nós, brasileiros de uma época realista e triste.
Ela soa, porém, estranhamente familiar quando observamos o conjunto da obra de FHC e Lula. Sempre há argumentos para defender que, sim, "houve avanços" aqui e ali, mas a percepção de que andamos em círculos, ou gaguejamos, parece mais sincera, quase incontornável.
Em 2010, as duas maiores lideranças que a oposição ao regime militar foi capaz de produzir terão dividido 16 anos no comando do país. O príncipe e o sapo chegaram lá. Não é pouco. Seria "poeta" quem imaginasse isso no início dos 90.
FHC passa à história como o homem que estabilizou a moeda -seu governo trocou inflação por dívida. O ex-príncipe da esquerda também foi, ironicamente, quem deu esteio e consistência ao delírio liberal de Collor, projetando-o no futuro. Foi a "modernização conservadora".
Lula herdou esse arranjo histórico e tratou de comer pelas bordas, sem mudar nada estruturalmente. Alargou a transferência de renda aos condenados da Terra, fez o jogo da banca e estrangulou o crescimento do país. Há sempre incautos dispostos a acreditar que isso ainda vá mudar em quatro anos.
A iniqüidade social passou praticamente ilesa pelas mãos da nossa nata progressista. Por excesso de autocomplacência ou redução de horizontes essa frustração histórica não costuma ser registrada como tal. A degradação da vida (inclusive da "qualidade de vida", para usar o jargão da moda) em cidades como São Paulo e Rio salta à vista -e a incapacidade de percebê-la na sua extensão é mais um de seus sintomas.
 
Abriram-se, enfim, os alçapões do inferno para Pinochet. O Brasil ainda reluta em abrir os seus. Os arquivos secretos da ditadura permanecem trancados pelo governo Lula. Tanta omissão em nome do quê?


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