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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Era uma vez a esquerda...
SÃO PAULO - "A história não se
repete, ela gagueja." Consta que essa era uma das frases pichadas nos
muros de Paris em Maio de 68. Como a fórmula original, que Marx
consagrou, a paródia forjada pelos
estudantes rebeldes não teria nada
mais a nos dizer -nós, brasileiros
de uma época realista e triste.
Ela soa, porém, estranhamente
familiar quando observamos o conjunto da obra de FHC e Lula. Sempre há argumentos para defender
que, sim, "houve avanços" aqui e ali,
mas a percepção de que andamos
em círculos, ou gaguejamos, parece
mais sincera, quase incontornável.
Em 2010, as duas maiores lideranças que a oposição ao regime militar foi capaz de produzir terão dividido 16 anos no comando do país.
O príncipe e o sapo chegaram lá.
Não é pouco. Seria "poeta" quem
imaginasse isso no início dos 90.
FHC passa à história como o homem que estabilizou a moeda -seu
governo trocou inflação por dívida.
O ex-príncipe da esquerda também
foi, ironicamente, quem deu esteio
e consistência ao delírio liberal de
Collor, projetando-o no futuro. Foi
a "modernização conservadora".
Lula herdou esse arranjo histórico e tratou de comer pelas bordas,
sem mudar nada estruturalmente.
Alargou a transferência de renda
aos condenados da Terra, fez o jogo
da banca e estrangulou o crescimento do país. Há sempre incautos
dispostos a acreditar que isso ainda
vá mudar em quatro anos.
A iniqüidade social passou praticamente ilesa pelas mãos da nossa
nata progressista. Por excesso de
autocomplacência ou redução de
horizontes essa frustração histórica
não costuma ser registrada como
tal. A degradação da vida (inclusive
da "qualidade de vida", para usar o
jargão da moda) em cidades como
São Paulo e Rio salta à vista -e a incapacidade de percebê-la na sua extensão é mais um de seus sintomas.
Abriram-se, enfim, os alçapões
do inferno para Pinochet. O Brasil
ainda reluta em abrir os seus. Os arquivos secretos da ditadura permanecem trancados pelo governo Lula. Tanta omissão em nome do quê?
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