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TENDÊNCIAS/DEBATES
Democratas, sim, e daí?
RODRIGO MAIA
Somos liberais, ou seja, democratas sem adjetivos, e afirmamos uma sociedade que inclua todos nas possibilidades de progresso
A QUESTÃO não é nova, mas
aflorou com intensidade nos
últimos dias, quando as firmes
posições dos Democratas -quanto à
fidelidade partidária e à batalha contra o achaque dos impostos, agora via
CPMF, que sustentamos desde o
princípio- levaram ao reconhecimento de que há um novo ciclo no
partido, abrindo espaço para novas lideranças e claros delineamentos políticos na nova democracia brasileira.
O fato de os Democratas assumirem abertamente a condição de liberais, no sentido de origem, afirmarem
sua ideologia e seus compromissos
fora do transnoitado embate entre os
tradicionais de esquerda e de direita
assustou alguns e os animou a abandonar suas tocas para lançar dúvidas
quanto a nossas afirmações de democratas sem adjetivos.
Pois bem, cartas à mesa.
Os Democratas são liberais, sim.
Nossos compromissos começam com
a liberdade que só se afirma num Estado democrático de Direito e com
garantias de mínimos sociais. Quando nos caluniam cavilosamente, não
analisam nossas ações, mas, quem sabe, se assustam com os espaços que
temos ocupado.
Essa é a batalha das idéias que
aqueles que nos caluniam por meio de
aleivosias grosseiras procuram repetir para alcançar o imaginário popular. Batalha inglória e perdida para
aqueles.
Na verdade, reivindicamos uma posição de centro reformista, topograficamente mais próxima à localização
que ocupamos de fato no espectro político brasileiro, diferente da bem-aceita divisão dos campos direita-esquerda do século passado.
Para ser preciso tecnicamente na
nossa autodefinição: professamos o
"empenho pelo direito à liberdade de
cada indivíduo e a manutenção da
dignidade humana", independentemente da diversidade cultural, social
e econômica. Conservadores e imobilistas são aqueles que ressuscitam ou
justificam o populismo dos anos 40 e
50 hoje na América Latina. O Estado
mínimo abre espaços à injustiça, e
o Estado máximo, à corrupção e ao
autoritarismo.
O Estado cumpre múltiplos papéis,
seja por sua função intransferível de
equilíbrio social e regional, seja por
seu papel essencial de garantidor do
Estado de Direito e de mantenedor da
ordem, sem a qual nenhuma sociedade sobreviveria. Os exemplos desde o
século 19 são muitos.
"Não há liberdade sem leis. O uso
egoísta da liberdade por parte de indivíduos mais fortes à custa dos mais
fracos leva, naturalmente, a longo
prazo, à perda da liberdade dos mais
fracos." Estou citando o liberal alemão Karl-Hermann Flach, arquiteto
do que se chamou "liberalismo social"
e que serviu de base para a histórica
coligação entre liberais e social-democratas que deu à antiga Alemanha
Ocidental 13 anos de desenvolvimento, paz e equilíbrio.
As tentativas pela esquerda ou pela
direita, desde o século 19, de substituir a democracia por ilustrados donos do poder nunca deram certo.
Por
isso mesmo, entendemos que não há
futuro sem passado, para ensinar, para corrigir, para avançar.
Lutar pela democracia -como valor, além de sistema- exige essa permanente reflexão sobre tática e estratégia, da qual não podem escapar de
julgamento os que negaram o voto a
Tancredo Neves (o que redundava
num presidente do regime que se superava) e negaram a sua assinatura na
Constituição de 1988, que hoje lhes dá
as garantias que não tinham.
Todos os partidos orgânicos brasileiros -se comparados com os europeus- estão em sua formação com
menos de 30 anos das instituições democráticas implantadas. Afirmamos
nossas utopias -não como o inalcançável, mas como um processo permanente de aperfeiçoamento partidário,
político e institucional.
Os donos da verdade já produziram
as catástrofes de que todos se lembram. E alguns insistem, o que exige
de nós permanente vigilância. Para
nós, ética é uma preliminar e uma
obrigação. Desvios, antes mesmo de
serem cobrados para fora, devem ser
cobrados para dentro.
Somos liberais, ou seja, democratas
sem adjetivos, e afirmamos uma sociedade que inclua todos nas possibilidades de progresso econômico, social e cultural. No nome, na ideologia
e no comportamento. Que se cobre,
de todos os partidos e de nós também,
pelo que somos e fazemos. O resto é
desaforo, pura grosseria destrutiva.
RODRIGO MAIA , 37, é deputado federal pelo DEM-RJ e
presidente nacional do Democratas.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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