São Paulo, terça-feira, 11 de dezembro de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Democratas, sim, e daí?

RODRIGO MAIA

Somos liberais, ou seja, democratas sem adjetivos, e afirmamos uma sociedade que inclua todos nas possibilidades de progresso

A QUESTÃO não é nova, mas aflorou com intensidade nos últimos dias, quando as firmes posições dos Democratas -quanto à fidelidade partidária e à batalha contra o achaque dos impostos, agora via CPMF, que sustentamos desde o princípio- levaram ao reconhecimento de que há um novo ciclo no partido, abrindo espaço para novas lideranças e claros delineamentos políticos na nova democracia brasileira.
O fato de os Democratas assumirem abertamente a condição de liberais, no sentido de origem, afirmarem sua ideologia e seus compromissos fora do transnoitado embate entre os tradicionais de esquerda e de direita assustou alguns e os animou a abandonar suas tocas para lançar dúvidas quanto a nossas afirmações de democratas sem adjetivos. Pois bem, cartas à mesa. Os Democratas são liberais, sim.
Nossos compromissos começam com a liberdade que só se afirma num Estado democrático de Direito e com garantias de mínimos sociais. Quando nos caluniam cavilosamente, não analisam nossas ações, mas, quem sabe, se assustam com os espaços que temos ocupado.
Essa é a batalha das idéias que aqueles que nos caluniam por meio de aleivosias grosseiras procuram repetir para alcançar o imaginário popular. Batalha inglória e perdida para aqueles.
Na verdade, reivindicamos uma posição de centro reformista, topograficamente mais próxima à localização que ocupamos de fato no espectro político brasileiro, diferente da bem-aceita divisão dos campos direita-esquerda do século passado.
Para ser preciso tecnicamente na nossa autodefinição: professamos o "empenho pelo direito à liberdade de cada indivíduo e a manutenção da dignidade humana", independentemente da diversidade cultural, social e econômica. Conservadores e imobilistas são aqueles que ressuscitam ou justificam o populismo dos anos 40 e 50 hoje na América Latina. O Estado mínimo abre espaços à injustiça, e o Estado máximo, à corrupção e ao autoritarismo.
O Estado cumpre múltiplos papéis, seja por sua função intransferível de equilíbrio social e regional, seja por seu papel essencial de garantidor do Estado de Direito e de mantenedor da ordem, sem a qual nenhuma sociedade sobreviveria. Os exemplos desde o século 19 são muitos.
"Não há liberdade sem leis. O uso egoísta da liberdade por parte de indivíduos mais fortes à custa dos mais fracos leva, naturalmente, a longo prazo, à perda da liberdade dos mais fracos." Estou citando o liberal alemão Karl-Hermann Flach, arquiteto do que se chamou "liberalismo social" e que serviu de base para a histórica coligação entre liberais e social-democratas que deu à antiga Alemanha Ocidental 13 anos de desenvolvimento, paz e equilíbrio. As tentativas pela esquerda ou pela direita, desde o século 19, de substituir a democracia por ilustrados donos do poder nunca deram certo.
Por isso mesmo, entendemos que não há futuro sem passado, para ensinar, para corrigir, para avançar. Lutar pela democracia -como valor, além de sistema- exige essa permanente reflexão sobre tática e estratégia, da qual não podem escapar de julgamento os que negaram o voto a Tancredo Neves (o que redundava num presidente do regime que se superava) e negaram a sua assinatura na Constituição de 1988, que hoje lhes dá as garantias que não tinham.
Todos os partidos orgânicos brasileiros -se comparados com os europeus- estão em sua formação com menos de 30 anos das instituições democráticas implantadas. Afirmamos nossas utopias -não como o inalcançável, mas como um processo permanente de aperfeiçoamento partidário, político e institucional.
Os donos da verdade já produziram as catástrofes de que todos se lembram. E alguns insistem, o que exige de nós permanente vigilância. Para nós, ética é uma preliminar e uma obrigação. Desvios, antes mesmo de serem cobrados para fora, devem ser cobrados para dentro.
Somos liberais, ou seja, democratas sem adjetivos, e afirmamos uma sociedade que inclua todos nas possibilidades de progresso econômico, social e cultural. No nome, na ideologia e no comportamento. Que se cobre, de todos os partidos e de nós também, pelo que somos e fazemos. O resto é desaforo, pura grosseria destrutiva.


RODRIGO MAIA , 37, é deputado federal pelo DEM-RJ e presidente nacional do Democratas.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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