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CARLOS HEITOR CONY
Marcito
RIO DE JANEIRO - Quarenta
anos atrás, num 11 de dezembro, a
Câmara Federal negava a licença
para que o governo da época processasse o deputado Márcio Moreira Alves. Em represália, dois dias
depois, foi editado o AI-5, que fechou definitivamente o regime.
A história é sabida, apesar das versões divergentes sobre detalhes
pontuais.
Marcito ainda não era conhecido
nacionalmente, mas já se tornara
personagem no Rio dos anos 50 e
60. Bem nascido, parente dos Melo
Franco e dos Rodrigues Alves, promovia réveillons famosos em seu
apartamento na Vieira Souto. Muito jovem, seus melhores amigos
eram mais velhos do que ele: Antônio Callado, Rubem Braga, Affonso
Arinos (pai).
Ganhou um Prêmio Esso de reportagem quando foi ferido num tiroteio em Alagoas. Em 1964, fez
parte do grupo que, no "Correio da
Manhã", desde os primeiros dias da
quartelada, denunciava as torturas
do novo regime. Em 65, foi preso na
porta do hotel Glória quando, ao lado de outros amigos, protestava
contra o marechal Castelo Branco,
que presidia uma reunião da OEA.
Elegeu-se deputado pela antiga
Guanabara, foi cassado e viveu anos
no exílio. Ao voltar, optou por um
jornalismo sem ressentimentos.
Dedicava uma crônica semanal a
um aspecto positivo da sociedade
brasileira, destacando municípios e
entidades que davam certo. Em todos os sentidos, Marcito era não
apenas um garotão de sucesso, mas
um puro.
Atravessa grave crise de saúde.
Fui visitá-lo no hospital Samaritano, estava no CTI. A mídia vem relembrando, nesta semana, a data
redonda do AI-5. Chovem os comentários, as análises, levanta-se o
background de um dos episódios
mais dramáticos da vida nacional.
Eu penso em Marcito e me honro
de sua companhia e amizade.
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