|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Quanto vamos crescer?
ANTONIO DELFIM NETTO
Um dos exercícios mais fúteis a que
se dedicam os economistas é o de tentar prever com absoluta exatidão as taxas de crescimento do PIB, da inflação, do saldo comercial e assim por
diante. Ninguém no Brasil tem um
modelo razoável de como funciona a
economia. Na segunda semana de janeiro dispomos de pelo menos 16
"previsões", feitas por instituições financeiras e consultores, assim distribuídas com relação ao crescimento do
PIB e ao saldo da balança comercial:
De onde saíram tais números? A
previsão do PIB é, obviamente, uma
previsão de crescimento de demanda.
Ora, a demanda tem quatro componentes: o consumo, o investimento, os
gastos do governo e a demanda externa líquida. Deixado de lado o último
componente, que obviamente vai
crescer sobre todos os outros, paira o
mais absoluto mistério. Tais previsões, portanto, só podem ser aceitas
como questão de fé! Quando se analisam os números, encontram-se inúmeras dificuldades. Em algumas, sobe
a taxa de crescimento do PIB juntamente com a taxa de juro real! O quadro abaixo mostra a relação entre as
duas variáveis nas 16 "previsões":
Não deixa de ser curioso que 13 analistas estimem um crescimento entre
3% e 4%, com taxas de juros reais que
vão de 4% a 12%!
Nenhum desses números tem fundamento, quer tenham sido revelados
no tarô ou por métodos econométricos sofisticados, pela simples e boa razão de que o Brasil em 2000 não será a
continuação do Brasil de 1999. Há, por
exemplo, três programas em andamento (um na Caixa Econômica Federal, outro no BNDES) para o saneamento financeiro de pequenas e médias empresas, que, se forem levados
adiante, podem modificar dramaticamente o quadro produtivo nacional.
O terceiro é o magnífico Refis proposto pela Receita Federal, que será aperfeiçoado no Congresso. Ele pode ser
uma revolução naquele mesmo sentido.
Na contracorrente temos a resolução nº 2.682 do Banco Central, que
exagera (mais uma experiência do
FMI?) na necessária regulamentação
prudencial do sistema bancário e que
parece excessivamente dura e prematura. Se posta em prática com a velocidade pretendida, pode anular boa
parte daqueles programas. Ela vai reduzir o volume de crédito para empresas em dificuldades, mas que poderiam recuperar-se (não são "evergreen loans") e produzir taxas de juros
diferenciadas pela exigência de provisões calculadas na base de "ratings"
mais do que discutíveis. Ela pode, de
fato, abortar o aumento tão necessário
da liquidez para a recuperação financeira das empresas.
O que vamos crescer em 2000 está,
infelizmente, inscrito nas ações aleatórias de burocratas independentes.
Coordenadas, elas talvez pudessem
proporcionar a boa surpresa de um
robusto e insuspeitado crescimento
estimulado por mais financiamento a
menores taxas de juros.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Matar ou morrer Próximo Texto: Frases
Índice
|