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JOGO BRUTO
Na transição para um novo
modelo cambial e econômico
na Argentina, com insatisfação social que dificilmente declinará no
curto prazo, o presidente Duhalde
veio a público declarar que não cogita renunciar. Mau sinal. Nos últimos
dias, o debate sobre o futuro da Argentina ganhou novos ingredientes:
o retorno das propostas de dolarização e o papel do Mercosul.
A visão pragmática aposta na manutenção do projeto de integração,
mas num ritmo ainda mais lento de
execução. Afinal, foi removido o
principal obstáculo à coordenação
de políticas macroeconômicas (o
modelo do peso conversível ao dólar
sob uma taxa fixa de câmbio).
Nesse cenário, a transição cambial
argentina seria lenta. Mas resultaria
num modelo similar ao brasileiro, de
flutuação cambial.
A violência mesma da crise argentina recolocaria o Brasil como principal parceiro estratégico do país, jogando por terra a tese das "relações
carnais" entre a Argentina e os EUA.
Mas ganhou força também a visão
ultraliberal, característica do "establishment" norte-americano, que repudia o Mercosul como um modelo
que apenas "desviaria" o comércio.
A crise atual seria, segundo essa
perspectiva, uma oportunidade única para a Argentina abandonar o
Mercosul e completar a transição
cambial com a plena dolarização.
Por enquanto, a abordagem pragmática predomina, mas sofre pressões tanto internas -a população
que reage ao "corralito"- quanto
externas -bancos e multinacionais
que repelem a desdolarização.
A Argentina tem dado sinais de reaproximação com o Brasil. Anunciou-se a revogação da resolução de julho
passado, que congelava as negociações bilaterais com o Brasil.
O Brasil, por sua vez, ao que consta
pretende abrir uma trégua no processo em que contesta, na OMC, as
medidas antidumping argentinas
contra as exportações de frango.
O envio de medicamentos pelo
Brasil foi também um sinal de aproximação com impacto humanitário.
Para o Brasil, o desafio é recolocar
o Mercosul em andamento no curto
intervalo que ainda resta até 2005,
prazo para o início da própria Alca.
Num contexto de agressividade na
diplomacia econômica norte-americana e irritação na comunidade internacional, o papel do Mercosul como
linha de resistência continua uma
promessa difícil de realizar, mas que
faz todo sentido recuperar.
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