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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
O preço do gás
Antes, os mais pobres solicitavam um auxílio para alimento,
passagem, remédios. Hoje o pedido
mais aflitivo é para comprar o botijão
de gás de cozinha. Sem gás não se
aquece o leite da criança nem se prepara a refeição. Não há proporção entre o aumento do preço do gás e outras
despesas domésticas. Essa situação requer medidas especiais e urgentes da
parte do governo a fim de evitar maiores sofrimentos para o nosso povo, já
atribulado com o custo da energia elétrica, da água, do transporte e de outras necessidades.
Esse pequeno indicador -o preço
do gás- obriga-nos a considerar o
problema mais amplo do empobrecimento crescente da população, fruto
da concentração demasiada de renda
nas mãos de poucos. A distribuição
perversa de riquezas e de oportunidades acarreta um fenômeno curioso,
pois, embora o Brasil continue se desenvolvendo economicamente, ao
mesmo tempo em nosso país a qualidade de vida de milhões de excluídos
se deteriora cada vez mais. As estatísticas são bem conhecidas.
O sofrimento do povo mais pobre
exige um esforço conjunto das forças
vivas do país para enfrentar as causas
da miséria e procurar superá-las sem
demora. Nesse sentido, a CNBB, unida a outras entidades, está promovendo estudos e iniciativas para debelar a
fome, na certeza de que "o alimento,
dom de Deus, é direito de todos". Os
trabalhos vão progredindo e darão
início a uma ampla campanha em todo o Brasil.
É preciso, no entanto, abrir ainda
mais o horizonte e somar energias na
busca de uma nova ordem econômica
e social, que coloque como prioridade
a pessoa humana, abandonando o engodo de um sistema voltado abusivamente para a produção, para o mercado e para o capital, cujos efeitos desastrosos convergem para a exclusão social de grande parte da humanidade.
Aguardamos a realização do Fórum
Social Mundial, em Porto Alegre, daqui a duas semanas. Esperamos que
esse evento ajude a despertar a consciência de muitos brasileiros para encontrar saídas dignas e lúcidas para o
impasse do empobrecimento da população. Será importante que o Fórum consiga apresentar propostas
viáveis e passos estratégicos para vencermos, enquanto é tempo, as falhas
estruturais e perniciosas da atual globalização e para descobrirmos caminhos rumo à civilização da solidariedade, tão desejada por João Paulo 2º
para o novo milênio.
Os dias difíceis que a Argentina enfrenta obrigam-nos a refletir, com seriedade e rapidez, sobre os meios para
cooperarmos com a nação irmã e a
percebermos que o flagelo do desemprego é um mal que atinge em larga
escala também o Brasil. Eis aqui um
critério básico para avaliar, nestes
tempos de eleição, as propostas políticas de partidos e candidatos.
Nesta perspectiva de novas oportunidades de trabalho, não pode faltar
um programa abrangente em benefício do homem do campo, que inclua a
partilha equitativa da terra, o apoio
técnico no plantio e venda do produto, a formação de cooperativas familiares e a melhoria de condições de
saúde e educação.
À luz da doutrina social da Igreja,
não basta garantir o preço acessível do
botijão do gás de cozinha, é preciso
que haja alimento nas panelas e a alegria para muitos de produzi-los com o
próprio trabalho.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
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