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DEIXAR O HAITI
A morte do general Urano Bacellar, chefe das forças da ONU
no Haiti, é um fato lamentável. Não
deve interferir, porém, no julgamento sobre a presença dos militares brasileiros no país caribenho. Esta continua carente de resultados e sentido.
De positivo, pode-se dizer que a situação social e política do Haiti provavelmente estaria ainda pior caso
não houvesse ocorrido uma intervenção das Nações Unidas. Mas,
descendo ao terreno concreto e observando a miséria, a criminalidade e
a anarquia institucional que reinam
em Porto Príncipe e outras cidades
haitianas, esse "ainda pior" se torna
uma discreta diferença de grau.
No mais, a presença brasileira no
Haiti marcha de mãos dadas com o
fracasso ou a irrelevância. A intenção
explícita de Brasília ao abraçar a missão -obter um assento permanente
no Conselho de Segurança da
ONU- é hoje abordada com ironia
na diplomacia internacional. É hora
de rever essa estratégia. O Brasil tem
de resolver problemas bastante básicos antes de lançar-se à aventura de
ajudar a governar o mundo.
O Haiti nunca manteve laços importantes com o Brasil. Sua indigência social, comparável à dos mais depauperados países africanos, é secular. É preciso cobrar dos países ricos,
interessados em estabilizar as regiões mais miseráveis do globo, que
enviem recursos para a reconstrução
haitiana, o que tem faltado.
Por tudo isso, parece sem sentido
que agora o Brasil se digladie com a
Jordânia -que hoje tem o maior
contingente cedido às forças da
ONU- para saber quem vai liderar a
missão após a morte de Bacellar.
É preciso desenhar uma estratégia
coerente e responsável para que os
brasileiros deixem o Haiti. É plausível diminuir as forças da ONU após o
segundo turno da eleição presidencial (março). O mandato da missão
deve ser estendido até agosto, e não
há motivo para que a participação do
Brasil persista além dessa data. Os
militares brasileiros fizeram a sua
parte na difícil tarefa de pacificar o
Haiti. Que outros países assumam
sua quota de responsabilidade.
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