São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

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DEIXAR O HAITI

A morte do general Urano Bacellar, chefe das forças da ONU no Haiti, é um fato lamentável. Não deve interferir, porém, no julgamento sobre a presença dos militares brasileiros no país caribenho. Esta continua carente de resultados e sentido.
De positivo, pode-se dizer que a situação social e política do Haiti provavelmente estaria ainda pior caso não houvesse ocorrido uma intervenção das Nações Unidas. Mas, descendo ao terreno concreto e observando a miséria, a criminalidade e a anarquia institucional que reinam em Porto Príncipe e outras cidades haitianas, esse "ainda pior" se torna uma discreta diferença de grau.
No mais, a presença brasileira no Haiti marcha de mãos dadas com o fracasso ou a irrelevância. A intenção explícita de Brasília ao abraçar a missão -obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU- é hoje abordada com ironia na diplomacia internacional. É hora de rever essa estratégia. O Brasil tem de resolver problemas bastante básicos antes de lançar-se à aventura de ajudar a governar o mundo.
O Haiti nunca manteve laços importantes com o Brasil. Sua indigência social, comparável à dos mais depauperados países africanos, é secular. É preciso cobrar dos países ricos, interessados em estabilizar as regiões mais miseráveis do globo, que enviem recursos para a reconstrução haitiana, o que tem faltado.
Por tudo isso, parece sem sentido que agora o Brasil se digladie com a Jordânia -que hoje tem o maior contingente cedido às forças da ONU- para saber quem vai liderar a missão após a morte de Bacellar.
É preciso desenhar uma estratégia coerente e responsável para que os brasileiros deixem o Haiti. É plausível diminuir as forças da ONU após o segundo turno da eleição presidencial (março). O mandato da missão deve ser estendido até agosto, e não há motivo para que a participação do Brasil persista além dessa data. Os militares brasileiros fizeram a sua parte na difícil tarefa de pacificar o Haiti. Que outros países assumam sua quota de responsabilidade.


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