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Fome de investimento
Resgate da dívida social em prazo aceitável exige do Estado bem mais que vistosos programas de cunho assistencialista
O PROGRAMA Fome Zero,
peça de resistência da
propaganda do primeiro período Lula na Presidência, completa sete anos como mero apêndice do Bolsa Família, verdadeiro carro-chefe do
Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome.
O saldo dos seis primeiros anos
do Fome Zero são 129 restaurantes populares construídos. Em
contraste, 12,4 milhões de famílias já recebiam no final de 2009
de R$ 22 a R$ 200, a renda complementar que substituiu cartões para compra de alimentos.
O foco em segurança alimentar, um problema localizado, como base para eliminação da pobreza foi abandonado, corretamente. Os méritos do Bolsa Família, por sua vez, já cedem lugar
ao reconhecimento crescente de
suas limitações. Muito dos avanços sociais que a ele se atribuem
resultam de um processo mais
longo de desenvolvimento, com
efeitos cumulativos.
Tome-se o acesso dos 25%
mais pobres da população à rede
de esgotos ou a fossas sanitárias:
passou de 32,3% em 1996 para
41,1% em 2002, no final do período FHC, e para 52,4% em 2008,
sob Lula -portanto, com taxas
similares de melhora. A virtual
universalização do ensino fundamental, com 97% das crianças
na escola, data de 2003.
Algumas das raízes desse progresso linear se encontram no ciclo econômico, que remonta à
abertura da economia brasileira
e ao controle da inflação, nos
anos 1990. Outras, na Constituição de 1988, com a generalização
da aposentadoria rural e da saúde básica. Outras, ainda, na demografia, com a acentuada redução da fecundidade a partir da
década de 1960.
Reconhecer aqueles avanços é
muito diverso, contudo, de concluir que tudo esteja resolvido ou
bem encaminhado no campo social. De um lado, a universalização do ensino e do atendimento à
saúde convive com sua má qualidade. De outro, é vergonhosamente lento o ritmo de melhora
nos indicadores sociais que dependem de investimento em infraestrutura.
Nenhum governo pode vangloriar-se por ter quase a metade da
população pobre desconectada
de esgotamento sanitário adequado. No Brasil, estima-se que
de 6 milhões a 8 milhões de famílias ainda carecem de habitações
apropriadas. São cifras de país
subdesenvolvido -e injusto.
Só com programas assistencialistas, sejam eles criados por Lula ou FHC, o Brasil não resgatará
essa dívida. Para isso, o Estado
tem de recompor a capacidade
de investir -com recursos e melhor gestão- e de eliminar os entraves para que o setor privado
assuma parte maior no esforço.
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