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Malabarismo chavista
NA ÚLTIMA sexta-feira, o governo da Venezuela se viu
obrigado a abandonar, de
forma parcial, a política que
mantinha a moeda local artificialmente valorizada. Há anos
perdurava a disparidade entre a
cotação oficial do dólar -fixada
desde 2005 em 2,15 bolívares- e
o câmbio paralelo, que podia
chegar a 7 bolívares por unidade
da moeda americana.
Em um país onde a maior parte
dos produtos de consumo é importada, tal discrepância elevava
o poder aquisitivo da população.
O custo era arcado pelo governo
e por sua estatal petrolífera, a
PDVSA. Ambos tinham reduzidas as suas receitas advindas da
exportação do principal produto
venezuelano, o petróleo.
Enquanto o preço do barril em
dólares subia, o que ocorreu até
meados de 2008, a defasagem
cambial podia ser financiada
sem maior sacrifício. Mas a crise
mundial deflagrou uma violenta
derrocada na cotação da commodity que ajuda a sustentar Hugo
Chávez no poder: de um pico de
US$ 147, em julho de 2008, aproximou-se dos US$ 30 cinco meses depois, tendo voltado, hoje,
ao patamar de US$ 80.
A política populista de Chávez
na economia, no entanto, não foi
abandonada. Com eleições legislativas marcadas para setembro,
o presidente venezuelano determinou a criação de duas taxas de
câmbio distintas. Para produtos
de necessidade básica -como remédios e alimentos-, o bolívar
será desvalorizado em cerca de
20%. Para os demais, a correção
cambial foi de 100%.
A história latino-americana está repleta desses malabarismos
cambiais, atos de desespero
diante de uma crise externa que
se insinua. A reação dos venezuelanos à maxidesvalorização
-de correr às compras antes que
os itens importados saltem de
preço- também é um clássico do
gênero. O resultado provável será um surto inflacionário, num
país que já fechou 2009 com alta
de 25% no custo de vida.
A incúria e a demagogia na gestão de economias rudimentares,
dependentes de um só produto
de exportação, levam a episódios
dramáticos como o que vive a Venezuela. Diante da aguda escassez de divisas, a prestidigitação
cambial chavista pretende esconder dos venezuelanos -pelo
tempo que for possível- a mensagem de que o país empobreceu.
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