São Paulo, terça-feira, 12 de janeiro de 2010

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Malabarismo chavista

NA ÚLTIMA sexta-feira, o governo da Venezuela se viu obrigado a abandonar, de forma parcial, a política que mantinha a moeda local artificialmente valorizada. Há anos perdurava a disparidade entre a cotação oficial do dólar -fixada desde 2005 em 2,15 bolívares- e o câmbio paralelo, que podia chegar a 7 bolívares por unidade da moeda americana.
Em um país onde a maior parte dos produtos de consumo é importada, tal discrepância elevava o poder aquisitivo da população. O custo era arcado pelo governo e por sua estatal petrolífera, a PDVSA. Ambos tinham reduzidas as suas receitas advindas da exportação do principal produto venezuelano, o petróleo.
Enquanto o preço do barril em dólares subia, o que ocorreu até meados de 2008, a defasagem cambial podia ser financiada sem maior sacrifício. Mas a crise mundial deflagrou uma violenta derrocada na cotação da commodity que ajuda a sustentar Hugo Chávez no poder: de um pico de US$ 147, em julho de 2008, aproximou-se dos US$ 30 cinco meses depois, tendo voltado, hoje, ao patamar de US$ 80.
A política populista de Chávez na economia, no entanto, não foi abandonada. Com eleições legislativas marcadas para setembro, o presidente venezuelano determinou a criação de duas taxas de câmbio distintas. Para produtos de necessidade básica -como remédios e alimentos-, o bolívar será desvalorizado em cerca de 20%. Para os demais, a correção cambial foi de 100%.
A história latino-americana está repleta desses malabarismos cambiais, atos de desespero diante de uma crise externa que se insinua. A reação dos venezuelanos à maxidesvalorização -de correr às compras antes que os itens importados saltem de preço- também é um clássico do gênero. O resultado provável será um surto inflacionário, num país que já fechou 2009 com alta de 25% no custo de vida.
A incúria e a demagogia na gestão de economias rudimentares, dependentes de um só produto de exportação, levam a episódios dramáticos como o que vive a Venezuela. Diante da aguda escassez de divisas, a prestidigitação cambial chavista pretende esconder dos venezuelanos -pelo tempo que for possível- a mensagem de que o país empobreceu.


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