São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

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Chuva de problemas

Passou da hora de prefeitura e Estado investirem em mais planejamento e obras de longo prazo para combater as enchentes em São Paulo

São muitas e conhecidas as justificativas para os transtornos provocados pelas chuvas que todos os anos castigam São Paulo: o alto grau de impermeabilização da metrópole, o lixo espalhado nas ruas, o esgoto despejado de forma irregular, a ocupação ilegal de áreas de risco, a opção coletiva pelo transporte individual e -como sempre faz questão de ressaltar quem quer que seja o prefeito- índices pluviométricos extraordinários. Mas nada explica tão bem as mazelas de verão quanto a falta de planejamento de longo prazo e de investimento em obras de prevenção às enchentes.
O tratamento errático e insuficiente dispensado ao problema transparece na análise dos gastos da Prefeitura de São Paulo no ano que passou. Gilberto Kassab (DEM) investiu abaixo do previsto na construção de piscinões e na canalização de córregos.
Dois reservatórios nas praças da Bandeira e 14 Bis, fundamentais para combater as cheias crônicas do vale do Anhangabaú, estão programados há pelo menos dois anos, mas não saíram do papel. O mesmo destino teve obra prevista para a região da Vila Madalena. Na zona sul, a canalização do córrego Ponte Baixa já contava com R$ 20 milhões orçados, mas não recebeu um centavo -e, em dezembro, uma mulher morreu na área, arrastada pelas águas.
Houve, é verdade, elevação das verbas para manutenção de piscinões. Mas o fato de o maior gasto relacionado às chuvas ter sido com "obras de emergência" para combate a enchentes revela a inversão de prioridades: quando a tragédia está consumada, resta amenizar os transtornos. Boa parte desse dinheiro foi, na realidade, para a região do Jardim Pantanal, com seus 10 mil habitantes cercados de água por todos os lados.
No plano estadual, a situação não é menos criticável. Existe um plano de macrodrenagem, mas a promessa de Geraldo Alckmin (PSDB) de que os alagamentos da marginal Tietê ficariam no passado, depois de gastos de mais de R$ 1 bilhão para rebaixar a calha do rio, fracassou. E a construção da Nova Marginal, ao ampliar a área impermeabilizada, não contribui para aliviar o problema.
O fato é que as grandes obras para conter as consequências nocivas da temporada de chuvas patinam em São Paulo. Desde o verão passado, quando 12 pessoas morreram, a região metropolitana ganhou três piscinões -ritmo lento para problemas tão prementes. Neste ano, foram mais cinco mortes na capital e 17 em outros pontos do Estado.
Tão exasperante quanto o calvário cotidiano de milhões de cidadãos é a reduzida perspectiva de melhora. Um plano de combate às enchentes encomendado pela prefeitura em novembro do ano passado para ajudar a "priorizar os investimentos" deve ficar pronto apenas em 2012. Infelizmente, não há sinais divinos de uma moratória nas chuvas até lá.


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