São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

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Editoriais

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Tiros no Arizona

A disputa ideológica que divide o eleitorado norte-americano amplificou os já trágicos efeitos dos disparos realizados no último sábado durante o encontro entre uma deputada e seus eleitores, em Tucson, no Arizona.
Seis pessoas morreram e outras 14 ficaram feridas quando um homem de 22 anos abriu fogo contra partidários da democrata Gabrielle Giffords, que discursava num supermercado. Atingida na cabeça, ela continua internada.
O presidente Barack Obama tem tratado o episódio com razoável cautela, mas políticos e aliados do governo não hesitaram em sugerir que o discurso radical de setores da direita teria incentivado o atirador a puxar o gatilho.
Durante as discussões sobre a reforma da saúde e, mais tarde, na campanha eleitoral para a renovação do Congresso, Obama e seus aliados não raro foram apresentados pelos conservadores como inimigos da pátria, partidários de políticas ora caracterizadas como socialistas, ora como fascistas.
Uma propaganda veiculada no ano passado pelo comitê de Sarah Palin, candidata a vice-presidente na chapa republicana em 2008, utilizava imagens de alvos de tiro para instar eleitores a derrotarem postulantes democratas no pleito legislativo. Entre os nomes na alça de mira estava o de Giffords.
Acuados nos últimos meses, democratas agora exploram politicamente a infeliz peça publicitária. Afirmam que a "retórica do ódio" promovida por seus adversários fugiu ao controle e pode ter contribuído para o tiroteio de Tucson.
Projetos radicais, em regimes democráticos, são em geral fortes candidatos ao fracasso eleitoral. Como o processo político exige negociação e acomodação de interesses, a tendência é de convergência para o centro. Se nesse contexto o conservadorismo de Palin já parecia passar do ponto, o episódio do atirador ofereceu a seus rivais a chance de associá-la a posições ainda mais extremadas -tornando sua eventual candidatura à Presidência em 2012 muito improvável.
Seria um novo exagero, contudo, creditar os disparos no Arizona apenas ao acirramento do debate ideológico. Nos Estados Unidos, como se sabe, tragédias desse tipo têm se repetido, tristemente, em variadas situações.


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