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SEM NORTE POLÍTICO
Para onde ruma o governo de
Luiz Inácio Lula da Silva? O resultado da reunião ministerial de segunda-feira, 40 dias depois da posse,
não permite responder a essa questão. As 14 medidas anunciadas, todas de caráter pontual, não podem
ser tomadas como diretrizes de gestão. Cumpriram apenas o papel formal de não deixar passar em branco
aquela que seria a primeira avaliação
conjunta das propostas dos ministros para as suas respectivas áreas.
Não se vê, ainda, nenhuma inovação política relevante comparando-se a estrutura de poder do novo governo com a das duas gestões do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na dúvida sobre como proceder,
é como se o situacionismo petista tivesse replicado o molde de FHC: a
tríade Fazenda, Receita Federal e
Banco Central hipertrofiada e ocupada por pessoas dispostas a agradar o
mercado financeiro, e os demais órgãos do Poder Executivo gravitando
em órbitas inferiores.
O esteio da permanência desse arranjo é a alta popularidade de que
desfruta o presidente da República
neste início de governo -fenômeno
devidamente incensado por parte influente da mídia, para a qual o apelo
caridoso e benemerente do Fome Zero caiu como uma luva.
Mas o fato é que o desemprego
continua em alta e a renda do trabalho, em queda. Mantida essa tendência -e as projeções indicam que ela
vai permanecer-, é provável que o
apoio popular e de setores da elite ao
governo se deteriore com o tempo.
Por inércia ou por um temor algo
exagerado de não afrontar os mercados financeiros, as estacas da divisão
de poder no governo Luiz Inácio Lula
da Silva já foram assentadas. Por
inércia ou por temor, o núcleo econômico promete aprofundar o modelo que herdou com a aprovação de
um estatuto que dê autonomia formal para o Banco Central. Mudar de
orientação no meio do caminho será
bem mais difícil.
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