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São Paulo, quarta-feira, 12 de fevereiro de 2003

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SEM NORTE POLÍTICO

Para onde ruma o governo de Luiz Inácio Lula da Silva? O resultado da reunião ministerial de segunda-feira, 40 dias depois da posse, não permite responder a essa questão. As 14 medidas anunciadas, todas de caráter pontual, não podem ser tomadas como diretrizes de gestão. Cumpriram apenas o papel formal de não deixar passar em branco aquela que seria a primeira avaliação conjunta das propostas dos ministros para as suas respectivas áreas.
Não se vê, ainda, nenhuma inovação política relevante comparando-se a estrutura de poder do novo governo com a das duas gestões do presidente Fernando Henrique Cardoso. Na dúvida sobre como proceder, é como se o situacionismo petista tivesse replicado o molde de FHC: a tríade Fazenda, Receita Federal e Banco Central hipertrofiada e ocupada por pessoas dispostas a agradar o mercado financeiro, e os demais órgãos do Poder Executivo gravitando em órbitas inferiores.
O esteio da permanência desse arranjo é a alta popularidade de que desfruta o presidente da República neste início de governo -fenômeno devidamente incensado por parte influente da mídia, para a qual o apelo caridoso e benemerente do Fome Zero caiu como uma luva.
Mas o fato é que o desemprego continua em alta e a renda do trabalho, em queda. Mantida essa tendência -e as projeções indicam que ela vai permanecer-, é provável que o apoio popular e de setores da elite ao governo se deteriore com o tempo.
Por inércia ou por um temor algo exagerado de não afrontar os mercados financeiros, as estacas da divisão de poder no governo Luiz Inácio Lula da Silva já foram assentadas. Por inércia ou por temor, o núcleo econômico promete aprofundar o modelo que herdou com a aprovação de um estatuto que dê autonomia formal para o Banco Central. Mudar de orientação no meio do caminho será bem mais difícil.


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