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CLÓVIS ROSSI
As virgens e a trombose
SÃO PAULO - Começo a temer
que o companheiro Fidel Castro venha a tomar o meu lugar como colunista. Afinal, bem na frente de todo
o mundo, o inoxidável líder cubano
(os cronistas esportivos maldosos
diriam ex-líder em atividade) afirmou sem pestanejar que o recém-instalado presidente Barack Obama já perdera a virgindade.
É verdade que Fidel errou na virgindade perdida. Aludia aos problemas com impostos de vários integrantes do primeiro e do segundo
escalão da nova administração norte-americana. São problemas, sem
dúvida, mas nada que se compare
com a virgindade destroçada do petismo aqui no Brasil.
Onde a virgindade de Obama começa mesmo a perder-se é no desafio econômico. De alguma maneira,
e em linguagem obviamente mais
polida e técnica, Martin Wolf, principal colunista do "Financial Times", e Vinicius Torres Freire, que
se vai tornando o Martin Wolf tupiniquim (em termos de competência, não de compartilhamento de
ideias), disseram ontem a mesma
coisa: Obama ainda não achou o
"ippon" que derrubaria a crise de
uma boa vez.
Por isso, vai-se diluindo aquela
sensação -difusa, como toda sensação, mas muito presente- de
que, já no dia 21 de janeiro, 24 horas
depois da posse, Obama reergueria
os Estados Unidos e içaria o mundo
com eles.
Pior: não aparece, em lugar nenhum do mundo, um hímen devidamente preservado. A rigor, estamos hoje como estávamos em setembro, o mês em que quebrou o
Lehman Brothers, episódio arbitrariamente tomado como o início do
fim dos tempos.
Ninguém conseguiu desentupir
as veias do sistema financeiro, vítimas de "trombose" na descrição de
Christine Lagarde, a ministra francesa de Economia. Sem essa ação,
tudo o mais vai continuar girando
em falso e não sobrarão virgens
nem no paraíso.
crossi@uol.com.br
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