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ELIANE CANTANHÊDE
Como embrulhar e vender o peixe
BRASÍLIA - O mundo todo (e o
mercado, particularmente) ainda
não digeriu direito o que há de bom
e o que há de preocupante no pacote de estreia de Barack Obama nos
EUA. Mas uma coisa é certa: o Planalto e o Itamaraty não estão gostando nem um pouco da história.
"Buy American" (compre produtos americanos) é protecionismo
deslavado, e "Employ American"
(empregue americanos) raia a xenofobia. Obama se elegeu prometendo abertura e arejamento, mas o
pacote projeta o oposto. Aprofunda
a ideologia do nacionalismo, já tão
forte nos EUA e entre norte-americanos típicos de diferentes camadas
sociais e de praticamente todas as
regiões. E é discriminatório entre
países e entre cidadãos.
Do ponto de vista prático, porém,
ainda não dá para decidir o que fazer, por falta de informação e entendimento. Não houve tempo para
cruzamentos das medidas dos EUA
com as normas da OMC (Organização Mundial do Comércio) e com os
interesses comerciais brasileiros
para identificar possíveis agressões
a um ou a outro -ou a ambos. O
Brasil não descarta entrar com processo na OMC.
Até agora, a avaliação do Planalto
e do Itamaraty é que o pacote, além
da simbologia retrógrada, tem mais
propaganda do que propriamente
medidas práticas. Quem já se debruçou sobre o texto com mais afinco identifica políticas e programas
já existentes e que apenas foram
"requentados" ou "repaginados"
em pelo menos três setores: educação, transporte e telecomunicações. Fica tudo na mesma, mas com
pitadas coloridas suficientes para
que Obama possa ficar com eventuais louros e se manter em palanque, que é do que gosta.
Marqueteiro esse Obama, hein?
Aliás, como alguém que a gente conhece muito bem e que tem uma
popularidade estratosférica aqui
neste "outro lado do Atlântico". O
importante nem é fazer nem inovar, é embrulhar o peixe muito bem
e vendê-lo melhor ainda.
elianec@uol.com.br
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