São Paulo, segunda-feira, 12 de março de 2001

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VINICIUS TORRES FREIRE

FGTS para os pobres

SÃO PAULO - O povo vai, sim, senhor, pagar a correção judicial do FGTS. Governismo? Por favor.
"Ah, mas o governo ajudou bancos com o Proer". Há um engano aí. Ajudou donos de bancos antes do Proer, que quebraram fraudulentamente nas fuças do Banco Central, que foi incompetente, corrupto ou obedeceu a ordens políticas -não há alternativa- por não intervir na bandalha. Depois, não havia o que fazer.
"Ah, governos aumentam sua dívida para honrar débitos suspeitos com negocista safado." De fato. De resto, o Estado costuma financiar e subsidiar a grande empresa, os mais ricos e a classe média. Há dezenas de exemplos, passemos, esse é outro e escandaloso problema.
"Então, por que não paga o FGTS?" O dinheiro do FGTS não está em um cofre, enterrado na Ilha do Tesouro. O governo vai ter de fazer dívida para pagar o que a Justiça mandou. Pode cobrar imposto para cobrir a dívida? Sim. De quem?
Dos bancos. Os bancos então cobrariam tarifas ainda maiores e manteriam os juros na Lua indecente onde estão. Não dá muito certo.
Aumentar o Imposto de Renda dos mais ricos (o que inclui a classe média)? Pode ser. Mas levaria décadas para pagar a conta. Não funciona.
Aumentar o imposto de empresas? Corta empregos, aumenta preços, piora a balança comercial. Não dá.
Pagar com ações de estatais? Mas toda a privatização das elétricas, se sair, rende um quarto da dívida do FGTS. De resto, dinheiro de privatização abate dívida pública.
Se o governo faz dívida e não tem como cobri-la, rola o papagaio. Corta investimentos. Quem ganha o dinheiro dos juros do Tesouro? Bancos e ricos (classe média incluída) que têm investimento em renda fixa.
O FGTS banca investimento em casa popular e saneamento, que pobre não tem. A correção judicial e advogados de sindicatos vão levar esse dinheiro. Os pobres dos pobres são desempregados crônicos ou vivem de bico. Não costumam ter FGTS.



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