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CLÓVIS ROSSI
A primeira e maior vítima
SÃO PAULO - Jornalistas somos, invariavelmente, vítimas de uma tentação: antecipar consequências formidáveis sempre que um evento de
importância acima do normal está
para acontecer.
No caso do ataque norte-americano ao Iraque, essa tentação se exacerbou, porque há todo um componente
de espetáculo nos preparativos para a
ofensiva.
Se serve de consolo, não somos apenas os jornalistas brasileiros que caímos nessa tentação. William Pfaff,
uma das mais notórias grifes do colunismo norte-americano, escreveu ontem para o jornal "The International
Herald Tribune":
"(A guerra) vai alterar permanentemente a relação entre os Estados
Unidos e o Oriente Médio islâmico. Já
provocou sérias mudanças no relacionamento da Europa com Washington. Pode ter influência duradoura no que se transformará a sociedade americana".
É de tirar o fôlego, não? Não sou
ninguém para argumentar com um
colunista norte-americano, mas é
bom lembrar que inúmeras expectativas também de tirar o fôlego foram
emitidas às vésperas da guerra anterior (1991), e poucas se cumpriram, se
alguma o fez.
Do ponto de vista do Brasil, o que,
sim, é de tirar o fôlego, mais do que o
preço do petróleo, é a perspectiva de
esfacelamento da ONU. Difícil discordar do embaixador francês na
ONU, Jean-Marc de la Sablière,
quando diz: "Qual seria a legitimidade de uma organização que viesse a
aprovar uma guerra que a grande
maioria, hoje, acha ilegítima, mas
que os Estados Unidos dizem que
ocorrerá de qualquer maneira?".
Conclusão do embaixador: "Nós seríamos irrelevantes".
Pode-se até argumentar que a ONU
não fez grande coisa por um mundo
melhor. Mas é o único dique de contenção para o unilateralismo de
Washington.
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