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São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A primeira e maior vítima

SÃO PAULO - Jornalistas somos, invariavelmente, vítimas de uma tentação: antecipar consequências formidáveis sempre que um evento de importância acima do normal está para acontecer.
No caso do ataque norte-americano ao Iraque, essa tentação se exacerbou, porque há todo um componente de espetáculo nos preparativos para a ofensiva.
Se serve de consolo, não somos apenas os jornalistas brasileiros que caímos nessa tentação. William Pfaff, uma das mais notórias grifes do colunismo norte-americano, escreveu ontem para o jornal "The International Herald Tribune":
"(A guerra) vai alterar permanentemente a relação entre os Estados Unidos e o Oriente Médio islâmico. Já provocou sérias mudanças no relacionamento da Europa com Washington. Pode ter influência duradoura no que se transformará a sociedade americana".
É de tirar o fôlego, não? Não sou ninguém para argumentar com um colunista norte-americano, mas é bom lembrar que inúmeras expectativas também de tirar o fôlego foram emitidas às vésperas da guerra anterior (1991), e poucas se cumpriram, se alguma o fez.
Do ponto de vista do Brasil, o que, sim, é de tirar o fôlego, mais do que o preço do petróleo, é a perspectiva de esfacelamento da ONU. Difícil discordar do embaixador francês na ONU, Jean-Marc de la Sablière, quando diz: "Qual seria a legitimidade de uma organização que viesse a aprovar uma guerra que a grande maioria, hoje, acha ilegítima, mas que os Estados Unidos dizem que ocorrerá de qualquer maneira?".
Conclusão do embaixador: "Nós seríamos irrelevantes".
Pode-se até argumentar que a ONU não fez grande coisa por um mundo melhor. Mas é o único dique de contenção para o unilateralismo de Washington.


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