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Bomba demográfica
Brasil tem a chance de corrigir com suavidade a Previdência e evitar um descalabro nas suas finanças a longo prazo
ADEQUAR o regime previdenciário a mudanças
no perfil demográfico é
um desafio que se coloca para todos os países que mantêm algum sistema de seguridade social. O Brasil não é exceção.
Apesar de tanto o governo de
Fernando Henrique Cardoso como o de Luiz Inácio Lula da Silva
terem promovido reformas previdenciárias, muito resta a ser
feito. O assunto, como afeta a vida de grande parte da população,
é dos mais explosivos.
É nesse contexto que se realiza, desde o último dia 7, o Fórum
Nacional da Previdência Social.
A idéia é que, durante seis meses,
representantes de trabalhadores, empregadores, governo e especialistas tracem um diagnóstico da questão previdenciária e
formulem propostas.
Os números demonstram que,
no longo prazo, o regime geral (o
INSS, que atende basicamente
aos trabalhadores do setor privado) é insustentável. Hoje, para
cada brasileiro com mais de 65
anos, existem dez trabalhadores
em idade produtiva. Em 2050,
serão apenas três, projeta o IBGE.
A população com 60 anos ou
mais, atualmente na marca dos
17 milhões, saltará para 64 milhões no meio do século. Paralelamente ao envelhecimento,
ocorre a queda da fecundidade.
Isso significa que entrará cada
vez menos gente no mercado de
trabalho e que terá a missão de
sustentar um número crescente
de aposentadorias e pensões.
Esse quadro -alarmante, mas
em longo prazo- confere boa
margem de manobra ao país de
hoje. Diferentemente de outras
nações, onde a pirâmide etária se
inverte muito rapidamente, o
Brasil tem condições de diluir ao
longo das próximas décadas os
efeitos mais impopulares da reforma necessária.
Cabe matizar alguns números
exagerados por vezes utilizados
nesse debate, como o de que o
déficit anual do sistema seria hoje superior a R$ 40 bilhões. Na
verdade, a contabilidade tradicional da Previdência mistura fatores que deveriam ser tratados
isoladamente. Entram na conta
do déficit despesas que de fato
são gastos assistenciais. É o caso
da aposentadoria rural (R$ 18,3
bilhões), e de subsídios, como a
renúncia de R$ 11,5 bilhões a favor de entidades filantrópicas.
Despido de tais gastos estranhos à lógica de contribuição e
benefício tipicamente previdenciária, o déficit do INSS em 2006
cai para R$ 3,8 bilhões, nos cálculos do ministro Nelson Machado. Tal exercício contábil, obviamente, não cria dinheiro -e é
urgente rediscutir os gastos sociais à luz do estrangulamento financeiro do Estado-, mas mostra que o regime geral não está,
hoje, muito longe do equilíbrio.
No curto prazo, o rombo é pequeno e pode ser coberto com
maior crescimento econômico e
maior formalização -cerca de
metade da população economicamente ativa está na informalidade e deixa de contribuir.
No longo prazo, a situação é
grave e exige mudança estrutural. Se a resposta específica está
por ser definida, não há dúvida
de que a nova reforma da Previdência precisa caminhar no sentido da ampliação, substancial,
do tempo de contribuição.
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