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CARLOS HEITOR CONY
Tempos e contratempos
RIO DE JANEIRO - Concordo
cordialmente que a situação não está boa, com a crise mundial, o desemprego, a falta de segurança, os
escândalos generalizados e impunes, o calor deste verão. Mesmo assim, fico espantado com o tom apocalíptico da mídia. Manchetes e
chamadas nos jornais e TVs avisam
que o mundo desaba, a economia
despenca, a humanidade está numa
unidade de terapia intensiva, em
estado terminal.
Lembro Mário Filho, dono do antigo "Jornal dos Sports", que, após
um clássico do Campeonato Carioca, mandou parar uma edição cuja
manchete era "Vasco destroçado".
A explicação dada à redação foi simples: um clube como o Vasco pode
perder uma partida ou um campeonato, mas isso não o destroça.
A tendência da mídia é exagerar,
apelando para catástrofes, armagedons, o diabo. Tive algumas experiências pessoais. Fui despachado
para cobrir uma tragédia na Argentina quando os militares de lá depuseram e prenderam o presidente
Arturo Frondizi. Jornais de todo o
mundo falavam que Buenos Aires
estava em guerra, fome, horror e
morte. Na primeira noite, fui a uma
boate, El Tronio, estava cheia de
gente que dançava e bebia.
Mais tarde, fui ao Cairo, que estaria pegando fogo com a assinatura
da paz em separado entre o Egito e
Israel. A primeira reportagem que
mandei para o Rio foi o espetáculo
de som e de luz nas pirâmides, com
nada menos que Frank Sinatra
contemplado por 4.000 anos de
história.
Em Roma, fui assuntar a eleição
de 1976 em que os comunistas tomariam o poder dos democratas
cristãos. Jornais dos Estados Unidos anunciavam a possibilidade de
uma terceira guerra mundial. Tirante um incêndio casual no cine
Barberini, na praça homônima,
nunca a doce vida romana esteve
tão doce.
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