São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009

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KENNETH MAXWELL

Cuba, de novo

RAÚL CASTRO surpreendeu muita gente, na semana passada, ao inesperadamente demitir dois dos mais proeminentes membros de seu governo. Carlos Lange era vice-presidente, e Felipe Pérez Roque era ministro das Relações Exteriores. Os dois eram há muito alardeados como possíveis sucessores de Fidel Castro.
Foi uma decisão dramática para o Castro mais jovem. Desde que assumiu, substituindo o irmão doente, um ano atrás, Raúl vem sendo criticado por não promover mudanças reais. No geral, ele reorganizou quatro ministérios, substituiu 12 membros do gabinete e entregou duas posições importantes a militares.
Fidel Castro deu a entender que aprovava a decisão. Lange e Pérez Roque foram seduzidos pelo "mel do poder". Em artigo para o jornal do Partido Comunista cubano, ele disse que "o inimigo externo estava repleto de ilusões quanto a eles".
O que afinal está acontecendo em Cuba? Há três desdobramentos dignos de nota.
O primeiro é que Raúl consolida seu poder. Além de substituir os ministros das Finanças, Trabalho e Economia, os dois generais promovidos representam as Forças Armadas, há muito a base de poder de Raúl no seio do regime.
O segundo é a necessidade de reforma. A benevolência da Venezuela se provou essencial para Cuba. Mas talvez não perdure. Chávez enfrenta restrições como resultado do colapso dos preços do petróleo no mercado internacional e já não dispõe dos meios para subsidiar Cuba indefinidamente.
Terceiro, há o potencial de um avanço na longa guerra fria entre os EUA e Cuba. Richard Lugar, principal republicano no Comitê de Relações Exteriores do Senado, divulgou relatório no qual recomenda que o relacionamento entre os EUA e Cuba seja repensado.
Mas, embora existam mudanças em curso em Cuba e a despeito de muitos norte-americanos estarem cansados do impasse, do lado dos EUA surgiu nova demonstração de até que ponto a política de Washington em relação a Cuba continua refém de preocupações de política interna.
Devido ao balanço de poder muito apertado no Senado, os democratas não têm capacidade de obter maioria de dois terços. Como resultado, os senadores de ascendência cubana Mel Martinez (republicano da Flórida) e Robert Menendez (democrata de Nova Jersey) se uniram para bloquear a aprovação do Orçamento dos Estados Unidos com a alegação de que ele prevê relaxamentos nas restrições de viagem e comércio com Cuba.
Os senadores foram persuadidos a deixar de lado sua oposição depois de receberem garantias da Casa Branca. Mas o episódio demonstra até que ponto é delicado o processo de promover mudanças.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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