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FERNANDO DE BARROS E SILVA
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SÃO PAULO - Os intelectuais de
esquerda adoram um abaixo-assinado. Na luta pela redemocratização, ele foi um instrumento importante de mobilização da sociedade
civil. Hoje, não se sabe ao certo o
que seja (nem se existe) "a sociedade civil". E os intelectuais, sobretudo de esquerda, perderam em boa
medida o protagonismo público.
Ainda assim, vira e mexe há abaixo-assinados por aí. Alguns em torno de causas abrangentes e justas,
outros que parecem só um cacoete
de antigamente. Diante de tudo isso, devemos nos perguntar agora:
onde está o abaixo-assinado?
Sim. Ou os intelectuais de esquerda não estão incomodados
com a fala bestial de Lula sobre Cuba? O assunto não comove a ponto
de solicitar um repúdio coletivo?
Seria demais exigir a retratação
pública do presidente por igualar as
vítimas de uma ditadura que liquidou seus opositores aos presos comuns de um país democrático?
Seria demais pressionar o governo brasileiro para que interceda em
favor de dissidentes presos arbitrariamente e/ou a caminho da morte?
Seria demais reafirmar (ou assumir, no caso de alguns) a defesa da
democracia e dos direitos humanos
como valores universais?
O silêncio de certa intelligentsia,
que insiste em tratar Cuba como
um caso à parte, uma ilha da fantasia rodeada de piratas, é tão cúmplice das atrocidades de Fidel e seu asseclas quanto a fala boçal de Lula.
Até quando a esquerda nativa
(com exceções honrosas) vai encarar a crítica à tirania cubana como
uma pauta da direita? Até quando
irá confundir o justo apelo dos dissidentes com a "máfia de Miami"?
Até quando irão invocar avanços
sociais hoje mais do que duvidosos
como pretexto -aí, sim- para justificar os horrores do regime? O dissidente Guillermo Fariñas precisará morrer -ou nem isso bastará para romper a omissão criminosa?
A Paquetá vermelha que incendiou bons corações nos anos 60 não
existe, não passa de uma quimera
mumificada. Então, apesar do atraso: cadê, cadê o abaixo-assinado?
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