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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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PAINEL DO LEITOR

Ciência
"Em resposta à professora doutora Marlene Benchimol, da Universidade Santa Úrsula, que me acusa de caluniador, de leviano, de machista e de outros turpilóquios ("Painel do Leitor", 10/4), esclareço: 1. Não é bem verdade que a referida senhora já estava aprovada como "bolsista pesquisadora há mais de 20 anos". As bolsas do CNPq não são vitalícias. São renovadas periodicamente, como não poderia deixar de ser, pois pressupõem continuidade de atividade em pesquisas. A renovação de uma bolsa tem de ser aprovada por um comitê de pares na área de especialização do candidato. E, para haver aprovação, é preciso um relatório que justifique a aprovação. Pois bem, em fins de janeiro, o recém-empossado secretário-geral do MCT, Wanderley de Souza, escreveu uma nota manuscrita ao presidente do CNPq (gestão anterior) solicitando que verificasse o que havia acontecido com a bolsa de sua mulher, a professora doutora Marlene Benchimol, que havia empacado na comissão de assessores. Quando o secretário voltou à carga, a questão já tinha sido resolvida normalmente. Não fora necessária nenhuma ação anômala do presidente do CNPq. Não está em questão aqui a competência da pesquisadora. O que importa é o fato da ingerência do secretário-geral na aprovação de bolsas. Informações poderiam ser obtidas pela interessada diretamente da burocracia do CNPq. 2. A segunda personagem é uma filha do ministro Roberto Amaral. Ainda antes de ser empossado ministro e já tendo sido indicado para o MCT, um intermediário seu, dizendo-se amigo do futuro ministro e funcionário da Unesco, vai ao CNPq solicitando informações sobre a concessão de uma bolsa para a filha do ministro. Informado sobre o assunto, o então ministro Sardenberg sugere que nada se faça. Empossado o ministro, seu chefe-de-gabinete procura "saber" sobre a bolsa da filha do ministro com o presidente do CNPq (gestão anterior). Em seguida, o secretário-geral volta à carga solicitando explicações. O presidente do CNPq sugere que a interessada faça uma nova aplicação para oportunidade futura. Novamente não está em questão aqui a competência da candidata. O que é significativo é o exemplo de tráfico de influência, se bem-sucedido ou não, que o ministro e o secretário-geral dão em suas intervenções, em causa própria, na distribuição de bolsas do CNPq. Quando o exemplo vem de cima, a corrupção se torna incontrolável. 3. O mais relevante entretanto da exposição da professora Benchimol foi a confirmação de que a verba destinada ao inicio de um Instituto de Pesquisas em Nanotecnologia foi "redistribuída de modo igualitário entre vários pesquisadores". É justamente esse populismo democratóide que vai acabar com a ciência e a tecnologia no Brasil. Quando se decide sobre distribuição de recursos públicos para ciência e tecnologia, a única preocupação deve ser o beneficio resultante para a sociedade e, consequentemente, a eficácia da aplicação financeira. A idéia de igualitarismo aplicada à pesquisa é simplesmente idiotice. Em ciência e tecnologia, igualitarismo só é defendido pelos medíocres. 4. E agora vamos aos sofismas, aliás não muito hábeis, do presidente do CNPq, professor Erney Felício Plessmann de Camargo (11/4). Sofisma 1 - Afirma ele, veemente à peremptoriamente, que, em sua gestão, não houve nenhum deslize na concessão de bolsas. Mas não informa nem que tenha havido tentativas e -nem tendo assumido posteriormente ao ministro e ao secretário-geral- que não tenha havido pressões sobre seu antecessor. Só não consigo imaginar como poderia deixar de saber dos acontecimentos narrados nos três itens acima. Sofisma 2 - Para amenizar a questão moral da tentativa de manter bolsas de produtividade, argumenta que a questão seria: se dirigentes, para fins oficiais, deixariam ou não de ser cientistas. O sofisma é desmontado pela própria denominação da bolsa. Ela é concedida para estimulo à pesquisa e é avaliada periodicamente pela produção recente do pesquisador. Não é um prêmio vitalício. E é por isso que administrações anteriores têm espontaneamente abdicado da bolsa. Talvez apenas por uma questão de decência. Parece que o presidente do CNPq acredita que questões de ética se resolvem no Conselho Deliberativo, como se cientistas não tivessem consciência. Sofisma 3 - O presidente do CNPq argumenta como se a única iniciativa fossem os pedidos de exclusão de bolsa a serem levados ao Conselho Deliberativo, quando sabe que essas iniciativas resultaram de uma série de pressões e resistências à tentativa de alguns dos interessados de burlar o sistema. Finaliza o presidente do CNPq com uma censura à Folha pela publicação de boatos. Ora, se minhas acusações e alertas, que são minhas, e não da Folha, e outras semelhantes não existissem, não sei o que a patota instalada no MCT não estaria fazendo. Senão só por isso, minhas revelações já seriam justificáveis. O que se constitui em um desserviço para a ciência e para o Brasil é a ambivalência, para dizer o menos, do presidente do CNPq."
Rogério Cezar de Cerqueira Leite (Campinas, SP)

Publicidade
"Finalmente uma voz se levantou contra o mau gosto e a falta de ética de anúncios publicitários. Parabéns a Marcelo Coelho por seu artigo "Anúncios sutis como elefantes" (Ilustrada, pág. E12, 9/4). O que eu esperava era uma atitude do Conar, que, surpreendentemente (ou não?), ignorou os anúncios da Globo.com e dos fabricantes de veículos."
Juanilda Carvalho (São Paulo, SP)

Pirataria e reforma
"Aproveito esse espaço para dizer aos artistas que lutam contra a pirataria que eles deveriam solicitar ao Congresso Nacional uma ampla reforma tributária em vez de pedirem apenas uma maior fiscalização sobre produtos pirateados, os quais muitos consumidores preferem devido aos altos impostos embutidos nos produtos legais."
José Guilherme Soares Silva (Uberaba, MG)

Transporte em São Paulo
"Parabenizo a prefeita Marta Suplicy, que conseguiu uma vitória nas negociações para implantar um sistema de transporte coletivo decente para a cidade. Essa senhora, que teve o desprendimento de deixar a sua confortável vida de glamour para se candidatar à prefeitura de uma cidade complicada, foi a única que teve coragem de enfrentar a máfia dos empresários de ônibus, que loteavam a cidade e a condenavam a ter um péssimo serviço de transporte."
Maria Helena P. Colnaghi (São Paulo, SP)

Jornais
"Foi muito feliz o artigo de Janio de Freitas "Dose excessiva" (Brasil, 8/4), que diz que o nosso presidente "deixou de ler jornais como reação à quantidade de notícias ruins". Ele não deve estar sabendo então que o relator petista da reforma tributária, o deputado federal Virgílio Guimarães (MG), está propondo o aumento da CPMF (que já deveria estar extinta) para 0,50%, durante cinco anos. E talvez não saiba também que o ministro da Previdência quer elevar o teto dos benefícios pagos pelo INSS para R$ 2.400, com o propósito, sem dúvida, de aumentar a arrecadação, pois os reflexos da arrecadação são imediatos, e os benefícios só são sentidos a longo prazo. Coitado do trabalhador brasileiro."
Pedro Rinaldo (Franca, SP)


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