São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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RICARDO MELO

Nada definido

A RIGOR, não há motivo para desconfiar da sinceridade do presidente quando descarta um terceiro mandato. Em se tratando de Lula, as opiniões valem tanto quanto versos de Vinicius sobre o amor: infinitas enquanto durem. Se o presidente mudar de idéia lá na frente, ou daqui a pouco, também terá sua velha metáfora musical à disposição, a metamorfose ambulante da qual ele se socorre sempre que é pilhado fazendo exatamente o oposto do que pregava. Dificilmente Lula tomará alguma decisão séria sobre o futuro antes dos experimentos das eleições municipais. Nelas ele pretende testar várias possibilidades. Uma candidata "petista", como Marta Suplicy, que, mesmo relaxando, agora goza a liderança nas pesquisas; o potencial de alianças multipartidárias, como a que se costura para a Prefeitura de Belo Horizonte, além de inúmeras variantes onde cabem Severinos, Jaders, Renans e tantos outros que o presidente hoje faz questão de elogiar país afora.
A burocracia do PT pode atrapalhar aqui e ali, fazer muxoxo, mas, no fundamental, vai engolir aquilo que o Planalto decidir. Poucas vezes se viu um presidente tão à vontade para manipular uma legenda como Lula faz com o PT. E a oposição só faz ajudar. Por trás de declarações graves e aparências de preocupação de membros do Planalto, o governo no fundo comemora a insistência de DEM, PSDB e cia. em montar CPIs para investigar dossiês.
Fernando Henrique Cardoso tomou Chandon quando presidia o país. Para uns, a começar dos abstêmios, terá sido um escândalo. Para outros, uma decepção -há tantos champanhes melhores. No cálculo político, outra conta é que importa. Somados, os escandalizados e os decepcionados não são capazes de preencher o total de votantes de uma mísera seção eleitoral. Muito menos de decretar o fim de carreira de Dilma Rousseff ou de quem quer que seja com base nesse tipo de acontecimento. Escolado, o próprio FHC, em tese o maior atingido e que adora falar pelos cotovelos, tem sido de um laconismo inusual ao comentar os fatos.
Em termos de sucessão presidencial, a principal questão continua em aberto. O presidente Lula é o campeão das avaliações, verdadeiro sucesso nas pesquisas e um fenômeno nas urnas. Mas, pela lei (ainda) vigente, é inelegível. A oposição bem sabe disso, assim como sabe que, sem a bênção do ex-metalúrgico que distribui cestas básicas e geladeiras e ao mesmo tempo engorda o lucro dos banqueiros, qualquer candidato terá dificuldade em sair vitorioso em 2010.
Que o diga Aécio Neves, o mais assanhado de todos. Entre uma parada e outra em Minas Gerais para providenciar uma muda de roupa antes da próxima viagem, não perde uma chance de grudar em Lula. A disputa municipal em Belo Horizonte vale ser acompanhada.


RICARDO MELO é secretário-assistente de Redação.


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