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CLÓVIS ROSSI
Na fronteira da barbárie
BRUXELAS - O senador democrata Joseph Liebermann qualificou de
"unamerican" as torturas aos presos
iraquianos durante o depoimento do
general Antonio Taguba ao Congresso norte-americano.
É verdade, mas não é toda a verdade. As Forças Armadas e o governo
norte-americano não são propriamente virgens na violação dos direitos humanos. Bastaria lembrar o
Vietnã, que também forneceu fotografias (ainda mais brutais, aliás) como as que estão sendo divulgadas a
respeito do Iraque.
Acrescente-se a terceirização da
barbárie praticada, em diferentes regiões do planeta, por regimes que os
Estados Unidos levaram ao poder ou,
no mínimo, apoiaram com entusiasmo, fechando os olhos para as torturas, assassinatos e desaparições que
os caracterizaram, como sucedia até
recentemente na América Latina.
Mas o inquietante, na conjuntura,
tanto quanto Abu Ghraib, a prisão
iraquiana, é Guantánamo, a base
norte-americana em Cuba a que foram levados os presos feitos no Afeganistão. No caso iraquiano, é sempre
possível torcer para que as torturas
tenham sido obra de um grupo de tarados ou, no máximo, tenham tido o
apoio de alguns comandantes e responsáveis pelos serviços de inteligência, mas não façam parte de uma política de Estado.
Digo torcer porque a hipótese inversa é demasiado horrenda.
Mas, no caso de Guantánamo, é,
sim, política de Estado. Política de Estado que nega aos prisioneiros o elementar direito de saber de que são
acusados e, por extensão, de se defender. É medieval.
Pior: se as fotos das torturas no Iraque provocaram uma sadia reação
da opinião pública e do corpo político
norte-americano, no caso de Guantánamo mantém-se o silêncio, salvo
uma ou outra menção tangencial (da
senadora Hillary Clinton ou do jornal "The Washington Post", ambas
na semana passada).
Nada disso, é claro, justifica o terrorismo, mas acaba dando-lhe pretextos para a sua própria cota de barbárie, naturalmente ainda maior.
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