São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

O fator Serra

BRASÍLIA - A decisão de José Serra de disputar a Prefeitura de São Paulo ajuda a oposição a tentar federalizar as eleições de outubro nos grandes centros urbanos. No mínimo, o tucano tornará mais difícil a vida do PT na sua principal vitrine.
O senso comum sobre Serra é que ele já perdeu a eleição paulistana duas vezes (1988 e 1996). Seus detratores dizem que o tucano caminha para o terceiro fracasso. Ou que Marta Suplicy é imbatível porque inaugurará obras aos montes. A análise é boa, mas está incompleta.
Silvio Pereira, secretário-geral do PT, aponta Serra como o candidato mais temível de Marta com base em números. Tome-se a eleição de 2002. O Brasil passava pela onda vermelha. O presidente a ser eleito, Lula, tiraria o país do buraco. Ainda não havia o caso Waldomiro, as taxas de desemprego na lua nem o PT anunciando um salário mínimo ridículo.
Nesse cenário favorável, Lula foi eleito presidente da República com 61,27% dos votos válidos. Uma lavada sobre seu adversário, o tucano José Serra, que ficou com 38,73%.
Ocorre que, na cidade de São Paulo, a história foi bem diferente. Dentro do município administrado por Marta Suplicy, apesar da onda vermelha, Lula teve 3.057.960 votos contra 2.930.620 de Serra. Uma diferença de apenas 127.340 votos.
Em termos percentuais, Lula teve 51,06% dos votos válidos na cidade de São Paulo. Serra ficou com 48,94%. O PT ganhou, mas a bola passou raspando na trave antes de entrar -para usar uma metáfora ao gosto do presidente.
É evidente que Marta continua favorita. A retirada dos tapumes das obras ajudará a lustrar sua popularidade. Mas a petista entrará na eleição com a obrigação de ganhar.
Já Serra não carrega a responsabilidade de concorrer apenas para vencer. Vai se beneficiar do desgaste da imagem de Lula. Só não pode perder de muito. Se ganhar, abre uma fenda na hegemonia petista. Se passar ao segundo turno e perder por pouco, cacifa-se para a eleição de 2006.


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