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FERNANDO RODRIGUES
O fator Serra
BRASÍLIA - A decisão de José Serra de disputar a Prefeitura de São Paulo
ajuda a oposição a tentar federalizar
as eleições de outubro nos grandes
centros urbanos. No mínimo, o tucano tornará mais difícil a vida do PT
na sua principal vitrine.
O senso comum sobre Serra é que
ele já perdeu a eleição paulistana
duas vezes (1988 e 1996). Seus detratores dizem que o tucano caminha
para o terceiro fracasso. Ou que Marta Suplicy é imbatível porque inaugurará obras aos montes. A análise é
boa, mas está incompleta.
Silvio Pereira, secretário-geral do
PT, aponta Serra como o candidato
mais temível de Marta com base em
números. Tome-se a eleição de 2002.
O Brasil passava pela onda vermelha.
O presidente a ser eleito, Lula, tiraria
o país do buraco. Ainda não havia o
caso Waldomiro, as taxas de desemprego na lua nem o PT anunciando
um salário mínimo ridículo.
Nesse cenário favorável, Lula foi
eleito presidente da República com
61,27% dos votos válidos. Uma lavada sobre seu adversário, o tucano José Serra, que ficou com 38,73%.
Ocorre que, na cidade de São Paulo,
a história foi bem diferente. Dentro
do município administrado por Marta Suplicy, apesar da onda vermelha,
Lula teve 3.057.960 votos contra
2.930.620 de Serra. Uma diferença de
apenas 127.340 votos.
Em termos percentuais, Lula teve
51,06% dos votos válidos na cidade
de São Paulo. Serra ficou com
48,94%. O PT ganhou, mas a bola
passou raspando na trave antes de
entrar -para usar uma metáfora ao
gosto do presidente.
É evidente que Marta continua favorita. A retirada dos tapumes das
obras ajudará a lustrar sua popularidade. Mas a petista entrará na eleição com a obrigação de ganhar.
Já Serra não carrega a responsabilidade de concorrer apenas para vencer. Vai se beneficiar do desgaste da
imagem de Lula. Só não pode perder
de muito. Se ganhar, abre uma fenda
na hegemonia petista. Se passar ao
segundo turno e perder por pouco,
cacifa-se para a eleição de 2006.
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