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CARLOS HEITOR CONY
A alma pequena
RIO DE JANEIRO - Um dos raros consensos de nosso tempo é o da ausência de heróis, de gigantes na paisagem humana e intelectual deste início de século. Tirante um desportista
excepcional, como Ayrton Senna, um
mito como Guevara, um personagem
polêmico, mas denso, como João
Paulo 2º, o cenário em que vivemos é
marcado pela mediocridade de atores, de figurinos e de enredos.
Em compensação, o elenco de apoio
é farto de vilões, nunca houve tantos,
e tão variados. Como excelentes vilões, têm vida breve e atuação datada, mas, enquanto estão atuando,
roubam a cena de tal forma que fica
impossível ignorá-los.
Numa lista apressada, sem necessidade de amplas pesquisas, temos na
"pole position" alguns personagens
que nos irritam pela monotonia com
que sempre ocupam os espaços vazios
do noticiário. No plano internacional, a dupla Bush-Blair produziu
uma tróica com o desassombrado reforço de Rumsfeld. A este último ficamos devendo uma informação valiosa: a verdadeira história do nosso
tempo, que começou em 11 de setembro de 2001 e ainda não acabou, apesar da ocupação do Iraque e da captura de Saddam Hussein, tem muitos
lances mais deprimentes do que as fotos dos prisioneiros torturados pelos
soldados norte-americanos.
No plano nacional, nossos vilões
são mais divertidos. O decano deles
parece que é Paulo Maluf, que gerou
um subproduto de peso, que ameaça
o estrelato que estava reduzido ao
Waldomiro e ao Cachoeira. Foi emocionante ver pela TV a ordem de prisão dada ao ex-prefeito Celso Pitta,
prisão que não valeu, pois nada no
Brasil parece valer a pena, temos a
alma pequena.
Os atores, como se vê, até que se esforçam para dar graça ao espetáculo.
O problema é mesmo o roteiro, de
uma indigência proporcional à magnitude da corrupção. Um roteiro
mal-escrito, monótono, sem novidades, mas bem realizado.
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