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CLÓVIS ROSSI
Surpresa é a surpresa
SÃO PAULO - O que surpreende na Cúpula América do Sul-Países Árabes é a surpresa de alguns com o fato
de que ela assumiu um tom político.
Cúpulas, com o perdão da obviedade
galopante, são sempre reuniões políticas. Por definição. Mesmo quando
tratam de outros temas, o fazem politicamente. Os detalhes técnicos ficam
para os ministros.
Cúpulas também não são o lugar
para vender mercadorias. É outra
atividade delegada ao segundo escalão ou aos meios empresariais, até
porque, quase sempre, cada cúpula é
acompanhada nos últimos muitos
anos de reuniões de empresários das
partes envolvidas.
Claro que a cúpula pode ser um
ponto de venda. Hoje, aliás, diplomatas são mascates, em alguma medida
(ou muita medida). Mas a cúpula
funciona apenas como uma espécie
de outdoor para os negócios. Business, mesmo, é com outra gente.
Mais surpresas vêm do fato de que
alguém se surpreenda com as críticas
aos Estados Unidos e a Israel durante
reunião em que estejam líderes árabes. Ora, como bem disseram duas
das jovens que cobriram o evento para esta Folha (Cláudia Dianni e Eliane Cantanhêde, das que mais conhecem os meandros diplomáticos na
mídia brasileira), os discursos foram
os "de sempre" quando falam líderes
árabes ou palestinos. Só pode se surpreender quem acha que a história
do mundo começa quando líderes
árabes desembarcam em Brasília e
começam a falar o que sempre falam.
É improvável, portanto, que os
"marines" desembarquem no lago
Paranoá para impedir a proliferação
de declarações usuais.
Nessa matéria, inusual foi a declaração do então presidente Fernando
Henrique Cardoso, equiparando o
unilateralismo norte-americano ao
terrorismo.
Não chegou a haver deslocamento
de "marines", mas queimou definitivamente a relação George W. Bush/
FHC. A cúpula nem de longe pode ter
efeito parecido.
@ - crossi@uol.com.br
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