São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 2005

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RISCO EMERGENTE

A média do risco-país calculado pelo banco JP Morgan, que representa a diferença entre as taxas de juros pagas pelos países emergentes e as oferecidas pelos títulos do Tesouro norte-americano, subiu de 330 pontos, em 8 de março de 2005, para 400 pontos no início de maio. Essa elevação, juntamente com as expectativas de desaceleração da economia mundial e o acirramento da concorrência, que deterioram os balanços de grandes corporações globais, pode sinalizar uma mudança nas condições de liquidez dos mercados financeiros internacionais.
O aumento na aversão ao risco tenderia a reduzir o fluxo de capitais para os países emergentes, como sugeriram os presidentes de Bancos Centrais em reunião na Basiléia (Suíça).
Segundo o Banco para a Compensação Internacional (BIS), o fluxo de empréstimos bancários para os países em desenvolvimento foi de US$ 92 bilhões nos três primeiros trimestres de 2004. Já o de títulos de dívida (bônus, notas, "commercial papers") somou US$ 82 bilhões, durante o ano de 2004, sob a liderança dos países asiáticos. Com o aumento da aversão ao risco, provavelmente, esse volume de recursos diminuirá.
Porém, não se deve esquecer que, paralelamente, as economias emergentes reduziram a dependência aos humores dos investidores internacionais para financiar seus estoques de dívida. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, o superávit em conta corrente dos países em desenvolvimento somou US$ 336 bilhões em 2004. Para 2005, projeta-se um saldo positivo de US$ 395 bilhões. As reservas em moeda forte desses países alcançaram US$ 1,9 trilhão em dezembro de 2003, último dado consolidado pelo BIS.
Essa estratégia de acumulação de superávits em conta corrente e de manutenção de elevadas reservas internacionais resulta num montante de recursos que pode amortecer os processos de reversão de expectativas. Há, no entanto, o risco de perdas associadas às variações das taxas de juros e de câmbio. Em torno de 70% das reservas internacionais desses países são em dólar.
Mesmo no caso brasileiro, houve uma melhora significativa nas contas externas. Todavia, o país ainda tem um elevado estoque de amortizações, estimado em US$ 46,2 bilhões em 2005 e US$ 32,4 bilhões em 2006. Se não parece haver crise iminente, é razoável supor que em algum momento os ventos vão mudar de direção, não havendo espaço para "velhos erros" -como tem dito o próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O Brasil precisa preservar as condições para seguir produzindo saldos comerciais expressivos e trabalhar para que a taxa de juros não prossiga, em sua extravagância, a dificultar a expansão da oferta e os resultados da política fiscal.


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