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Agroestratégias
Alta no preço da comida acirra disputa por terras aráveis no mundo e abre grandes oportunidades ao agronegócio brasileiro
O AUMENTO pronunciado
dos preços dos alimentos tem suscitado crescente preocupação no
mundo todo. Questões como a
segurança alimentar -ou seja, a
garantia de suprimento de alimentos no país-, que não vinham recebendo prioridade, voltam rapidamente ao topo da
agenda dos governos.
Um dos países que se mobilizam é a China. Há alguns anos
está em curso uma estratégia de
expansão das empresas chinesas
para o exterior. Elas se dirigem,
em grande medida, para os segmentos de energia e alimentos,
nos quais o país precisa garantir
seu abastecimento para que possa continuar crescendo de modo
acelerado.
A China abriga cerca de 40%
dos agricultores do mundo, mas
só 9% das terras aráveis. Além
disso, está perdendo auto-suficiência alimentar com a alteração da dieta básica do país, estimulada pela elevação de seu nível de renda. A mudança de hábitos à mesa tem elevado rapidamente as importações de carne e
de ração para rebanhos.
Os chineses já importam volumes consideráveis de produtos
agrícolas dos países em seu entorno (Vietnã, Camboja, Laos
etc.). Constroem vínculos crescentes com países africanos, exportadores de petróleo e de produtos tropicais. Agora o Ministério da Agricultura da China desenha um programa para aquisição
de terras aráveis na América do
Sul. Empresas chinesas, com forte apoio financeiro de Pequim,
pretendem produzir alimentos
no continente, a fim de preservar
a segurança alimentar do país
asiático.
Medidas semelhantes têm surgido em nações ricas em petróleo, mas pobres em terras aráveis, do Oriente Médio e do norte
da África. A Líbia negocia com a
Ucrânia o cultivo de trigo. A Arábia Saudita anunciou decisão de
investir em agricultura, pesca e
pecuária no exterior, a fim de assegurar o abastecimento e conter a inflação, que subiu muito no
período recente, pressionada pelo preço da comida.
Esses movimentos configuram
oportunidades cruciais para o
agronegócio brasileiro. O país
dispõe de grande extensão de
terras agricultáveis, boa parte
delas ainda não exploradas. Tem
também a água e a tecnologia necessárias para expandir sua oferta de alimentos e ampliar sua
participação no mercado global.
Esse aprendizado e os capitais
acumulados permitem também
um salto das empresas brasileiras para o exterior. Inserir as savanas africanas, muito similares
ao cerrado, nas áreas de expansão da oferta mundial de alimentos deveria ser um objetivo estratégico dos agroempresários e
do governo brasileiro.
Algumas ações já estão em curso. Nos últimos anos, o governo
brasileiro tem levado adiante
iniciativas de cooperação tecnológica com vários países africanos. A Embrapa, por exemplo,
tem um escritório de representação em Gana. Isso, no entanto, é
muito pouco diante da dimensão
do desafio. Seria importante aumentar a articulação entre o
agronegócio brasileiro e esse esforço estratégico ainda incipiente, embora promissor.
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