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ALBA ZALUAR
Utilidades inúteis
NA CORRENTE dos otimistas
persistentes, a crença na racionalidade humana é infindável. Se todos fossem iguais e
racionais, que maravilha viver.
Mesmo sabendo que não é bem assim, vale a pena persistir.
Claro que uma das maiores dificuldades para que a racionalidade
das pessoas comuns (e elas também são racionais) vença os esquemas, trapaças e rasteiras dadas pelos agentes econômicos, governamentais, institucionais e pessoais
está nos círculos viciosos baseados
na crença que esses agentes têm de
que tais esquemas e trapaças trazem benefícios a quem os pratica.
Não se pode negar. Mas por
quanto tempo as vantagens permanecem?
Quando um esquema de arrendamento travestido de empréstimo bancário começar a incomodar
os fregueses de uma empresa, com
a liberdade de imprensa hoje imperando no país, as notícias correrão
céleres e os clientes irão embora.
Mais difícil é entender como esquemas eleitoreiros, que afetam
principalmente os mais pobres
deste país, podem estar criando um
desastre democrático. E esse desastre provavelmente começou
com a redemocratização do país,
na forma como os partidos políticos passaram a competir pelo controle das associações formadas ou
fortalecidas durante as lutas políticas, independentes de afiliação
partidária, ocorridas no período
militar.
Se não, vejamos. As associações
de moradores, muitas vinculadas
às comunidades eclesiais de base,
padeciam, segundo observadores
atentos, de uma tensão básica. Só
subsistiam enquanto unidade coesa por escamotear os conflitos internos. Mas assim não é em todas
as unidades conhecidas, onde sempre há conflitos que não podem ser
exibidos simultaneamente?
No período democrático, partidos políticos "populares" explicitaram tais conflitos e passaram a disputar acirradamente o seu controle. Cabos eleitorais, asseclas, futuros candidatos a postos eletivos
vieram a predominar no seu comando. Esquemas mais que clientelistas, como os que se observa hoje em algumas favelas mais populosas, fazem dessas associações poderosas agências para obtenção de
terreno, habitação e demais serviços governamentais e não-governamentais. Compram-se votos pelas benesses distribuídas, vendem-se serviços e mercadorias por preços acima do mercado.
Com isso, a democracia torna-se
uma farsa, e o capital social dos vizinhos se desagrega. Mais difícil
torna-se socializar os jovens, e o
controle social informal não é suficiente para impedir que surjam entre eles assaltantes, seqüestradores, homicidas, que afetam a qualidade de vida de toda a cidade, de todo o país. Quem ganhou?
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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