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RUY CASTRO
Hostil às crianças
RIO DE JANEIRO - De propósito,
dispensei-me de acompanhar o circo armado pela televisão no caso da
menina Isabella. Mas, pelo que sei,
as matérias evitaram reconstituir
as cenas da garota sendo efetivamente agredida. Seria ir longe demais, até para os padrões de certos
canais. Talvez seja demais também
para nós imaginar as cenas dessa
agressão.
E, no entanto, casos de violência
contra crianças acontecem todos os
dias, quase sob as nossas barbas. Na
semana passada, por exemplo, um
bebê de três meses foi atirado pela
mãe dentro de um rio na cidade de
Ponte Nova (MG) e morreu afogado. Entre várias explicações confusas, a mãe alegou que estava com
Aids e pensou que a filha também
estivesse.
Em meados de abril, outro bebê,
este de 11 meses, morreu num hospital em Contagem, na Grande Belo
Horizonte, com os indícios mais
cruéis de espancamento. A hipótese
é que o garoto tenha sido agredido a
socos pelo padrasto. Alguns dias antes, no Estado da Pensilvânia, nos
EUA, uma menina de dois anos
morreu a golpes de um joystick
(controle de videogame), desferidos pelo namorado de sua mãe.
E não param de sair detalhes das
torturas contra a menina de 12
anos, praticadas até março último
por sua patroa, uma empresária de
Goiânia, com a cumplicidade da família. Entre outras maldades, ela
era acorrentada à parede, recebia
marteladas nas solas dos pés, tinha
os dedos espremidos no vão das
portas, a língua beliscada com alicate, era deixada sem comer por dias
-quando então a alimentavam com
fezes e urina de cachorro- e seus
olhos, nariz e boca eram besuntados e entupidos de pimenta.
O século 18 era tido como particularmente hostil às crianças, pela
exploração da mão-de-obra infantil
na Revolução Industrial. No século
21, não temos essa desculpa.
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