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Partido da economia
Depois de especulações sobre o "risco Serra", candidato tucano se irrita ao ser questionado sobre suas ideias econômicas
O CANDIDATO José Serra
tem-se mostrado pouco à vontade ao ser
questionado sobre
suas opiniões econômicas.
Como se sabe, o economista do
PSDB costuma ser enquadrado
sob o rótulo de "desenvolvimentista", corrente que privilegia o
crescimento da economia e resiste a sacrificá-lo em nome de
uma prudência monetária que
atribui a interesses do mercado
financeiro.
Depois de ter sido alijado da
gestão econômica no governo de
Fernando Henrique Cardoso, o
ex-governador dirigiu nos últimos anos duras críticas à atuação do Banco Central -que se
comportou na gestão petista de
acordo com os princípios consagrados no período anterior.
Para Serra, a autoridade monetária prejudicou a expansão do
PIB e o equilíbrio das contas externas ao elevar em demasia a taxa básica de juros.
Na campanha presidencial de
2002 o candidato já havia manifestado simpatia pelo que chamou de "ativismo governamental". Ao fazê-lo, em nenhum momento defendeu o intervencionismo, mas considerou que o Estado deveria atuar como indutor
do desenvolvimento econômico.
São ideias também professadas por setores importantes do
governo, como a Fazenda e o
BNDES. A própria candidata Dilma Rousseff já se mostrou afinada com essa linha, embora anteontem tenha preferido exercer
seu senso de oportunidade para
enaltecer a autonomia do BC e
acenar ao mercado como fiadora
da atual política.
Tanto a petista como sua rival
Marina Silva, do Partido Verde,
aproveitaram-se de uma ríspida
reação do tucano a perguntas,
formuladas num programa de
rádio, sobre sua suposta inclinação a centralizar a gestão econômica em prejuízo da independência do BC.
É possível que a irritação do
candidato tenha raízes nas especulações que, meses atrás, o
apresentaram como um "risco" à
permanência da política baseada
no tripé metas de inflação, autonomia do BC e câmbio flutuante.
Boatos, que já se insinuavam, foram animados por uma entrevista do senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, em janeiro.
Na ocasião, Guerra foi direto
ao responder se haveria mudanças na hipótese de o ex-governador ser eleito: "Sem dúvida nenhuma", declarou. E explicou:
"Iremos mexer na taxa de juros,
no câmbio e nas metas de inflação. Essas variáveis continuarão
a reger nossa economia, mas terão pesos diferentes".
Diante das reações negativas, a
resposta do senador foi vista por
correligionários como um erro
político. Mas, ao que tudo indica,
é essa a visão que predomina no
comitê do candidato tucano -e
não constitui, por si, ameaça à
estabilidade.
Aliás, as diferenças entre as
concepções de Serra, Dilma e
Marina, em matéria de economia, parecem mais de grau do
que de rumo. Seria proveitoso
que fossem expostas com mais
clareza, mas a gestão econômica
do país tem-se revelado bem-sucedida, e não é crível que os principais pretendentes ao Planalto
se disponham a aventuras.
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