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ANTONIO DELFIM NETTO
O FMI melhorou
É FATO CONHECIDO que, no
Brasil, o mais importante para a aceitação de uma "teoria"
é que ela seja exposta em inglês.
Sua conformação com nossa realidade e nossa história é, em geral,
um acidente de menor importância. Que tais construções são mais
"modismo" do que "ciência" nunca
foi tão visível como no comportamento recente dos economistas do
FMI. Estes costumavam impor sua
ideologia como "ciência" a todos os
países que lhe pediam ajuda. A geografia, a história e a organização
política de cada um deles não lhes
interessavam.
Eram todos elementos pertencentes a um mesmo conjunto abstrato de países supostamente controlados por um mesmo modelo de
equilíbrio, que respondia a uma
ciência econômica universal. Esta,
em lugar de ser parte de um todo
social, era o próprio todo.
Nem mesmo a distinção entre
países "desenvolvidos" e "em desenvolvimento" fazia sentido. Numa espécie de ataque de marxismo
tardio, para o FMI todos estavam
condenados a percorrer o mesmo
caminho. Ele era, apenas, o guia
que indicava o caminho "ótimo"!
Foi preciso uma crise internacional, que ainda não terminou,
mas já dizimou a economia de muitos países e produziu um desemprego e um empobrecimento fantásticos, para que o "modismo"
vendido como "ciência" mostrasse
a sua verdadeira cara.
Uma coisa é certa: o FMI não
produziu a crise, mas suas "crenças" foram importantes fatores
coadjuvantes na insensatez que levou os Estados a reduzirem a regulação do sistema financeiro. Regulação criada nos anos 30 do século
passado para coibir a repetição da
patifaria que produziu a crise de
1929.
Os fatos mostraram que a crença
no "mercado" financeiro perfeito,
que ao autorregular-se obedecia ao
imperativo categórico kantiano, é
uma farsa. Os agentes de tal mercado, quando não duramente regulados pelo Estado, têm uma irresistível propensão à velhacaria. Sempre
voltam ao local do crime...
Para mostrar a mudança de atitude do FMI e a recuperação de
certo "espírito científico" temos:
1º) a dúvida sistemática; 2º) o cuidado e a humildade com as afirmações apodícticas e, acima de tudo,
3º) a busca incessante de refutar
empiricamente suas crenças.
E basta esta frase: "Embora existam algumas evidências sugerindo
que uma continuada sobrevalorização da taxa de câmbio prejudique o crescimento e que uma desvalorização o estimule, elas são
ainda insuficientes" ("Regional
Economic Outlook - Western Hemisphere", maio de 2010, pág. 52).
Bingo! Essa é a dúvida que temos
de eliminar.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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