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PT do B
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Nenhuma surpresa
na recente crise do PT. Acho até estranho que o racha tenha vindo tão tarde. Tal como o velho MDB, que rachou
de diversas formas e sentidos (PMDB e
PSDB), o PT inicial e heróico era uma
frente popular, e não apenas trabalhista.
Com a queda do regime autoritário
e, sobretudo, com a morte na praia
diante da candidatura Collor, em 89,
já se podia falar em PT do B -tal como ocorreu com o velho Partidão. Faltou coragem ou lucidez para os descontentes abandonarem o Titanic articuladamente. O racha de agora envolve questões e ressentimentos pessoais.
Ninguém pode ser contra a pureza
ideológica que a turma do Rio invoca
para se rebelar contra o diretório nacional. Gosto sempre de citar episódios
da Segunda Guerra Mundial. Hitler
armou toda a sua estratégia militar
na certeza de que a Inglaterra jamais
se aliaria à União Soviética. O aliado
natural do imperialismo britânico seria o nazismo, jamais o comunismo.
Ele não contava com a obstinação de
Churchill: "Se o demônio for contra
Hitler, eu me aliarei ao demônio!".
O exemplo é óbvio demais para merecer comentário suplementar. Resta
saber até que ponto as vestais ideológicas do PT do Rio consideram a atual
situação uma decorrência do demônio
neoliberal e globalizado.
Isolar-se num castelo de idéias puras
é louvável para um filósofo, um pensador, um espectador da cena política.
O projeto ideológico do PT (como o da
esquerda em geral) é uma guerra com
batalhas menores que, apesar de menores, precisam ser vencidas. Mudar o
curso colonialista que o atual governo
deu ao país pode até ser uma dessas
batalhas menores. Uma etapa para o
reino da bem-aventurada justiça social que todos desejam.
Nem por ser uma batalha menor deve ser dada na bandeja ao adversário.
Ideologia não é modalidade olímpica,
em que o importante é apenas competir.
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