São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

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PT do B

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Nenhuma surpresa na recente crise do PT. Acho até estranho que o racha tenha vindo tão tarde. Tal como o velho MDB, que rachou de diversas formas e sentidos (PMDB e PSDB), o PT inicial e heróico era uma frente popular, e não apenas trabalhista.
Com a queda do regime autoritário e, sobretudo, com a morte na praia diante da candidatura Collor, em 89, já se podia falar em PT do B -tal como ocorreu com o velho Partidão. Faltou coragem ou lucidez para os descontentes abandonarem o Titanic articuladamente. O racha de agora envolve questões e ressentimentos pessoais.
Ninguém pode ser contra a pureza ideológica que a turma do Rio invoca para se rebelar contra o diretório nacional. Gosto sempre de citar episódios da Segunda Guerra Mundial. Hitler armou toda a sua estratégia militar na certeza de que a Inglaterra jamais se aliaria à União Soviética. O aliado natural do imperialismo britânico seria o nazismo, jamais o comunismo. Ele não contava com a obstinação de Churchill: "Se o demônio for contra Hitler, eu me aliarei ao demônio!".
O exemplo é óbvio demais para merecer comentário suplementar. Resta saber até que ponto as vestais ideológicas do PT do Rio consideram a atual situação uma decorrência do demônio neoliberal e globalizado.
Isolar-se num castelo de idéias puras é louvável para um filósofo, um pensador, um espectador da cena política. O projeto ideológico do PT (como o da esquerda em geral) é uma guerra com batalhas menores que, apesar de menores, precisam ser vencidas. Mudar o curso colonialista que o atual governo deu ao país pode até ser uma dessas batalhas menores. Uma etapa para o reino da bem-aventurada justiça social que todos desejam.
Nem por ser uma batalha menor deve ser dada na bandeja ao adversário. Ideologia não é modalidade olímpica, em que o importante é apenas competir.



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