São Paulo, terça, 12 de maio de 1998

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A armadilha

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Quanto mais Mário Covas dizia que não seria candidato, mais candidato ele era. Quanto mais Marcello Alencar dizia que seria candidato, menos candidato ele era.
Se não concorresse, Covas estaria reconhecendo antecipadamente a derrota para Paulo Maluf. Não concorrendo, Alencar está não só admitindo a derrota para César Maia ou Anthony Garotinho como praticamente enterrando sua carreira política.
São dois bons exemplos de como a reeleição tornou-se uma obrigação, um tudo ou nada: ou o cara concorre ou fica com a fama de quem fugiu da raia e está liquidado.
No Ceará, a reeleição se transformou num fardo para Tasso Jereissati. Governador pela segunda vez, acha que não haverá nada a inovar numa terceira. Sonha voltar à política nacional, com gabinete em Brasília.
A reeleição não deixa. Todas as pesquisas mostram que ele é o único candidato do PSDB considerado imbatível. Se for outro, pode estar em risco todo um projeto de poder.
Além disso, a reeleição para os governos estaduais precipitou perigosamente as campanhas nos Estados e desarticulou alianças que pareciam sólidas e duráveis.
Na Paraíba, o senador Ronaldo Cunha Lima não larga o comando do Estado por nada. Mas o governador José Maranhão, que assumiu com a morte do titular Antônio Mariz, pegou o gosto. Está instalada a guerra.
Na Bahia, o ex-governador Paulo Souto conquistou a bancada estadual, consolidou-se nas pesquisas e arvorou-se assim candidato a líder do espólio carlista que seria de Luís Eduardo Magalhães.
Entretanto a possibilidade de reeleição (ou seja, de um vôo de oito anos no poder) deixou-o na alça de mira de quem tem as armas. ACM cortou-lhe as asinhas, e ele disputa o Senado.
Se já é assim com os governadores, a reeleição dos prefeitos vai ser pior, eternizando os monopólios políticos locais. Preparem-se para o ano 2000.



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